Em dois meses de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro houve um aumento no número de tiroteios, chacinas, mortes e balas perdidas. Os dados, apresentados nesta semana pelo Observatório da Intervenção, mostram o aumento significativo nos principais índices que medem a violência no estado, em especial os crimes ligados ao patrimônio.
O levantamento ainda traz informações sobre as operações policiais realizadas no período analisado. Cerca de 40 mil agentes de segurança foram envolvidos em 70 operações que resultaram em 25 mortes e 140 armas apreendidas. O CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), responsável pela compilação de dados, lembra que o interventor, Comandante Braga Netto, havia declarado que a intervenção seria pautada por ações de inteligência, e não de repressão. Os números, no entanto, mostram o contrário.
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“Tudo indica que o comando da intervenção não tem um modelo de política de segurança que pretende implantar”, critica o CESeC. O relatório ainda alerta para o aumento de crimes contra o patrimônio, que atingiram padrões inéditos, e para o alto número de tiroteios: foram 1502 registros que vitimaram 284 pessoas. “Definida às pressas, sem planejamento, recursos ou metas, [a intervenção] continua na base do improviso,mesmo após dois meses. A intervenção não resolve problemas estruturais e cria outros”, pontua o relatório.
Outro dado questionado é custo da operação anunciado pelo interventor: R$ 3,1 bilhões. Dos quais R$ 1,5 bilhões seriam destinados ao pagamento de dívidas e o restante, R$ 1,6 bilhões, para o custeio de ações em 2018. No entanto, não há uma explicação de como o comandante chegou a esse valor. O CESeC argumenta que deveria haver uma auditoria no caso do montante relacionado às dívidas, e que só com um planejamento concluído é que seria possível estimar os custos reais das operações durante a intervenção.
Em março, durante a sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Conectas denunciou o possível agravamento das violações de direitos humanos no Rio de Janeiro por conta do decreto de intervenção federal e solicitou apoio do Alto Comissário contra a medida para evitar mais abusos.
No mesmo mês, a Conectas e outras entidades de direitos humanos ingressaram com um pedido de amicus curiae no STF (Supremo Tribunal Federal) em apoio à ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 5915, que questiona a constitucionalidade do decreto 9288/18. O prazo para a manifestação da Procuradora-Geral da República está próximo do vencimento.