Em mais um episódio de autoritarismo incompatível com um governo democraticamente eleito, a ativista Sonia Guajajara, uma das lideranças da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) foi intimada pela Polícia Federal a depor por suposta difamação contra o presidente Jair Bolsonaro.
O pedido de investigação foi realizado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em razão da divulgação da webserie Maracá, em que a Apib denuncia as violações do governo contra os povos indígenas no contexto da pandemia de Covid-19. Dividido em oito episódios, a webserie pode ser acessada aqui.
A intimação de Sonia Guajajara é mais um capítulo na escalada de perseguições e intimidações do governo Bolsonaro contra ONGs, acadêmicos e ativistas críticos a sua gestão. Segundo relatório da ONG Global Witness, o Brasil é um dos países que mais mata, persegue e intimida defensoras e defensores.
Em particular, as lideranças indígenas têm sido alvos do próprio presidente, que por duas vezes usou o palanque da ONU para atacá-las. Em 2020, sem qualquer prova, culpou os indígenas pelas queimadas na Amazônia e no pantanal. No ano anterior, acusou o cacique Raoni, liderança história da etnia Caiapó, de servir a interesses estrangeiros na Amazônia.
Diante da pandemia de Covid-19, foi necessária uma cautelar da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) e uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal), movida pela Apib, para obrigar o governo brasileiro a elaborar um plano de emergência para conter o avanço da doença nos territórios indígenas.
O plano do governo só foi homologado pelo STF, parcialmente, em março, sem determinar como será realizada a desintrusão dos cerca de 20 mil garimpeiros dos territórios Yanomami.
Leia mais:
A denúncia realizada pela Funai demonstra o aparelhamento da entidade e o desvio de funções daquele que deveria ser o órgão mais importante de elaboração e execução de políticas públicas de proteção dos povos indígenas brasileiros.
Conectas vem frequentemente denunciando o descaso e os ataques do governo brasileiro contra esses povos. A Sonia Guajajara e à Apib prestamos nossa solidariedade e respeito por sua história de luta em defesa de direitos.