Voltar
-
25/11/2020

Como usar o seu privilégio em favor da transformação?

Atuação da sociedade civil ganha cada vez mais relevância à medida que o governo se exime de suas responsabilidades



Gabriel Prazeres Gomes, de 19 anos, não teve muito tempo de se familiarizar com a moto que ganhou de presente da mãe, em julho. Morador da região noroeste de São Paulo, o jovem negro que trabalhava como motoboy sonhava em construir um futuro ao lado da namorada. Mas a polícia chegou antes que o sonho pudesse se realizar, e prendeu o rapaz por tráfico de drogas.

Na cadeia, Gabriel adoeceu de Covid-19, se recuperou, mas acabou morrendo de meningite menos de dois meses depois de ser preso em um flagrante no qual, segundo sua mãe relata em reportagem da Ponte, foi forjado pelos policiais. 

Ao expor a fragilidade da Lei de Drogas em vigor no país e o descaso do poder público com os presídios, a história de Gabriel reflete ainda a forma como as populações historicamente marginalizadas são tratadas no Brasil. Além de representarem 67% da população carcerária, segundo o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), pretos e pardos também são os que mais morrem fora das cadeias. De acordo com o Atlas da Violência 2020, pessoas negras representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios do Brasil, em 2018.

O privilégio além da pele

Fantasmas estruturais também assombram outras parcelas da população. De acordo com um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só no estado de São Paulo, nos meses de março e abril, começo da pandemia, os casos de feminicídio aumentaram 41,4%, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Além disso, segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), só entre janeiro e fevereiro de 2020, o Brasil teve um aumento de 90% nos casos de assassinatos de pessoas trans e travestis, também em relação ao mesmo período do ano passado. 

A desigualdade, que também é de classe, parece ter encontrado um alívio com a política de renda básica implementada pelo governo, durante a pandemia. Mas ela esbarra na superficialidade. “É inegável que programas de transferência de renda constituem uma condição necessária para se combater a desigualdade brasileira. Mas é preciso juntá-las com outras políticas sociais. A desigualdade é múltipla e exige remédios vindos de vários setores. Qual é a política bolsonarista, por exemplo, para se reduzir a desigualdade racial?”, questiona o cientista político Fernando Abrucio, no jornal Valor Econômico. 

Seja um agente da mudança!

Mais do que necessária, a mudança é uma questão de sobrevivência, como mostram ainda os casos de xenofobia contra refugiados venezuelanos em Roraima e a tentativa de extermínio das populações indígenas. 

Mas como aqueles que estão fora da mira podem ajudar? A conscientização pode ser um início. Ampliar as referências para além do que é tradicionalmente imposto, buscando ouvir, ler e assistir ao que é produzido por quem sempre esteve do lado de fora da mídia é uma forma de alterar o imaginário.

“É desleal elas [pessoas brancas], detentoras de melhores escolas, livros, bibliotecas, legarem para nós [pessoas pretas] o fardo de educá-las. Principalmente quando a nossa preocupação é ficar vivos”, afirmou a pesquisadora de filosofias africanas Aza Njeri, ao site Catraca Livre. “Precisamos que a branquitude se implique na causa de maneira honesta para que possamos dar um passo social frente à questão”, concluiu, reforçando uma ideia que também acomoda gênero e classe

O papel das ONGs

Nesse sentido, o trabalho do terceiro setor também ganha cada vez mais relevância à medida que o governo se exime das suas responsabilidades. Ao lado de diversos parceiros, a Conectas é uma das organizações que buscam transformar a realidade das populações mais vulneráveis, propondo soluções, atuando juridicamente, denunciando abusos e contribuindo para o avanço dos direitos humanos.

Não se esqueça que você também pode fazer parte dessa transformação. Conheça nossas ações e junte-se à nós!

Informe-se

Receba por e-mail as atualizações da Conectas