O novo Coronavírus encontrou um terreno fértil no velho problema do sistema prisional brasileiro. Celas apertadas, sem ventilação e em condições subumanas de higiene são o lar de muitos dos, aproximadamente, 750 mil presos no Brasil, segundo o Infopen. A superlotação e a falta de cuidados contribuem para a fragilidade da saúde das pessoas privadas de liberdade no Brasil, que formam a terceira maior população carcerária do mundo.
Em 2018, por exemplo, muito antes da pandemia, mais de dez mil casos de tuberculose foram confirmados entre os detentos — um recorde dos últimos dez anos, em números absolutos, segundo um levantamento recente feito pela agência Pública, com dados do Ministério da Saúde. Esse número torna a população carcerária 35 vezes mais apta a ser infectada pelo bacilo da tuberculose do que quem está em liberdade, abrindo ainda mais o caminho para a disseminação da Covid-19.
No dia 20 de março, o Judiciário suspendeu as visitas em grande parte dos presídios do país. Mas, ao mesmo que tempo que a medida visa ajudar diminuir a proliferação do vírus, também expõe os presos a outros males, caso não seja aplicada seguindo recomendações de saúde. Como diz um relatório especial de saúde mental da ONU, “o confinamento solitário e a detenção prolongada ou indefinida, incluindo décadas de detenção em prisões ou outros ambientes fechados, influenciam negativamente a saúde mental e o bem-estar”, cita trecho do documento.
A preocupação maior dos órgãos de proteção é com os presos que fazem parte do grupo de risco. Só em São Paulo, existem 10.538 detentos com problemas como tuberculose e asma, 4.911 são gestantes e lactantes e 2.617 são idosos. Em março, a recomendação nº 62 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sugeriu o cumprimento de regras que asseguram penas, ou até a concessão de liberdade provisória, para alguns casos, numa medida que foi celebrada por órgãos internacionais, como a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos).
Os mais de 100 mil trabalhadores do sistema carcerário, que têm contato com presos e com pessoas em liberdade na mesma medida, provam que supor que os presos estejam em isolamento total — e que, por isso, não contribuem para a disseminação do vírus — é um erro. Não à toa, o primeiro caso da Covid-19 dentro do sistema carcerário, divulgado pelo ministro Sérgio Moro, no dia 8 de abril, se deu em um detento que cumpre pena em regime semi-aberto.
É por isso que o relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre Coronavírus, divulgado em março, é enfático ao afirmar que os esforços para controlar a Covid-19 devem ser os mesmos dentro e fora dos locais de detenção. Caso contrário, quem perde é toda a comunidade.
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