Por 153 votos, o Brasil garantiu nesta quinta-feira, 17, seu assento para mais um mandato de três anos no Conselho de Direitos Humanos da ONU — mais importante órgão intergovernamental responsável por fortalecer a promoção e proteção dos direitos humanos em todo o mundo. Com sua eleição, o Brasil poderá propor e votar resoluções.
Além do Brasil, concorriam às duas vagas oferecidas ao Grulac (Grupo de Países da América Latina e Caribe), Venezuela e Costa Rica – este último entrou na corrida há apenas três semanas. Ao final da apuração, Venezuela assegurou a segunda vaga com 105 votos, enquanto a Costa Rica ficou com apenas 96 votos.
Desde o princípio, o pleito do Estado brasileiro a um novo mandato no Conselho de Direitos Humanos foi polêmico. Sob a gestão Bolsonaro, a diplomacia brasileira assumiu uma guinada ideológica conservadora contrária a suas posições históricas contra temas como drogas e direitos sexuais e reprodutivos, ofendeu a memória do pai da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, morto pela ditadura Pinochet, e atacou e constrangeu defensores brasileiros presentes no Conselho. Em razão disso, pela primeira vez, a Conectas se pronunciou contrariamente à candidatura brasileira.
De acordo com Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas, a eleição do Brasil não significa um cheque em branco para o governo atuar como deseja no Conselho:
“Como membro do Conselho de Direitos Humanos, o Governo Bolsonaro fica sujeito a ainda maior escrutínio público de suas ações ante o órgão e em relação às suas políticas domésticas”, lembra Asano. “As regras da ONU contemplam a possibilidade de um membro-eleito ser suspenso ou até mesmo expulso”, complementa.
Ela cita como exemplo o caso das Filipinas que, apesar de ser membro do Conselho, neste ano foi alvo de uma resolução sobre a situação dos direitos humanos no contexto das execuções extrajudiciais em decorrência de sua chamada “guerra às drogas”.
“A sociedade civil seguirá com o seu trabalho de denunciar a situação de violações de direitos humanos no país, além de monitorar a política externa brasileira e cobrar da comunidade internacional uma maior atenção a esse cenário”, conclui Asano.
Ao total, as eleições de hoje elegeram 14 novos membros do Conselho de Direitos Humanos. Saiba aqui (em inglês) quem são os países eleitos.