Parceiros da Conectas no Egito vinham denunciando uma política persecutória contra organizações de direitos humanos, especialmente aquelas que recebessem recursos do exterior. Denunciavam também a impunidade da que se beneficiavam os responsáveis das violações a direitos humanos ocorridas durante o regime de Hosni Mubarak, a chamada “Primavera Árabe” e sob o governo Mohamed Morsi.
Depois do ocorrido em 3 de julho, Hossam Baghat da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais falou “é triste que tenha sido de esta forma e estou preocupado como futuro, mas satisfeito de ver que a Irmandade Muçulmana foi vencida e desbancada depois de todo o que nos fizeram”.
As observações da Malak Poppovic, egípcia e uma das fundadoras da Conectas, refletem as de Baghat. “Em um país com instituições democráticas, tais manifestações de massa levariam ao ‘impeachment’ ou a renúncia legal do presidente, como foi o caso de Fernando Collor no Brasil. Infelizmente, essas instituições foram destruídas e desrespeitadas pelo presidente Morsi. A continuidade do regime da Irmandade Muçulmana ameaçava levar o país ao caos.”
Os próximos dias serão fundamentais para se decidir o futuro do país. O respeito aos direitos humanos deve pautar a transição atual. A Alta Comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, reconheceu as manifestações como uma clara indicação de que os egípcios querem que os seus direitos fundamentais sejam respeitados, mas também manifestou sua preocupação com as detenções massivas de membros da Irmandade Muçulmana. “Não deve haver mais violência, detenções arbitrarias, nem atos de vingança. Devem ser tomadas medidas para deter e investigar os casos de violência sexual contra as mulheres participando dos protestos”.
Na sexta-feira passada, O Instituto Cairo de Estudos em Direitos Humanos, em parceria com outras organizações, denunciou o fechamento de canais de comunicação islamitas e a detenção de alguns dos seus funcionários no dia 4 de julho como uma clara violação da liberdade de imprensa.
Ainda mais preocupante é a onda de violência iniciada no País. Na manhã do dia 8 de julho, mais de 50 pessoas foram mortas e centenas feridas quando as Forcas Armadas atiraram contra um grupo de manifestantes pró-Morsi.
A situação atual no Egito está bem polarizada, o que pode dificultar ainda mais a transição. Segundo a Malak Poppovic, “uma escalada da violência sem solução política de transição pode prejudicar as poucas possibilidades de diálogo em um país tão dividido.” A própria Navi Pillay ressaltou “a importância de um diálogo verdadeiro e inclusivo com todos os segmentos da sociedade a fim de alcançar uma reconciliação e reforçar os princípios democráticos e o estado democrático de direito sob a liderança de um governo civil.”