A China vive um dos momentos mais sombrios para defensores de direitos humanos das últimas décadas. Cerca de 250 advogados e ativistas foram presos ou detidos para interrogatório pelas autoridades chinesas neste mês de julho. Outros 20 estão desaparecidos.
O governo do presidente Xi Jinping, no poder desde 2013, fortemente amparado pela mídia estatal, alega que estas pessoas integram “grupos criminosos” que exploram casos contenciosos para enriquecer e atacar o Partido Comunista. Segundo organizações locais, muitos dos detidos foram forçados a fazer pronunciamentos humilhantes para canais de televisão oficiais em cadeia nacional.
Em setembro de 2014, o Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária se pronunciou sobre a grave situação dos direitos humanos no país e pediu ao governo chinês a libertação imediata de três proeminentes advogados que estão sendo julgados por supostamente incitar a subversão.
Para o ativista Teng Biao, professor da Universidade de Ciência Política e Direito da China e da Universidade Chinesa de Hong Kong, as prisões são arbitrárias e acontecem porque o Partido Comunista teme uma maior aproximação entre os militantes e a população chinesa. Biao participou do TEDx durante o XIII Colóquio Internacional de Direitos Humanos em 2013, já fazendo a denúncia das dificuldades para a atuação de defensores de direitos humanos no país.
“Eles [os ativistas] ganharam mais e mais suporte da população e estão mais organizados. [Por causa disso] São vistos pelo Partido Comunista chinês como uma ameaça profunda. O partido tem um medo exagerado da revolução colorida”, afirma o professor em entrevista exclusiva à Conectas.
O clima de repressão no país tem forçado muitos dos ativistas que não foram presos a se manterem em silêncio. Ainda, segundo Biao, são frequentes os relatos de assédio, detenções arbitrárias, desaparecimentos e até mesmo de tortura que não são divulgados pela imprensa. Membros de ONGs e grupos religiosos, hackers, estudantes universitários, advogados e jornalistas são os principais alvos, afirma.
Teng Biao não tem dúvidas sobre o real propósito do governo: destruir por completo o movimento dos direitos humanos e a sociedade civil organizada chinesa. “Nos preocupa a possibilidade de que Xi Jinping leve a China de volta a um sistema de totalitarismo e barbárie”, conclui.