O ano que passou foi agitado para aqueles que lutam pelos direitos humanos. O tema esteve em voga no Brasil e no âmbito internacional. “Mesmo escutando sobre o assunto, muitas pessoas ficam curiosas para entender melhor o que faz uma organização que luta, diariamente, por esses direitos e por um País e um mundo mais justo”, diz Lucia Nader, diretora executiva da Conectas.
No Brasil, os protestos de junho de 2013 e nos meses que antecederam a Copa do Mundo colocaram em pauta demandas por mais direitos e evidenciaram casos graves de violência policial. Além de seu trabalho de mais de uma década com prisões e com o sistema de justiça brasileiro, Conectas denunciou os abusos policiais cometidos nos protestos, por meio de recursos legais, debates, apelos e denúncias, feitas no país e no exterior. “Esse ano os olhos dos brasileiros foram expostos a abusos históricos – e muitas vezes pouco visíveis – cometidos pelos agentes do Estado. Não nos calamos diante deles”, afirma Rafael Custódio, do Programa de Justiça da organização.
Ainda nacionalmente, articulações da Conectas e parceiros, iniciadas anos antes, contribuiriam para a criação do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. A proibição por lei da Revista Vexatória, que submete parentes de presos a situações desumanas, também parece mais próxima, após ações articuladas e campanha pública para influenciar os parlamentares. “A grande maioria de nossas ações são realizadas em parceria com outras entidades. Temos a colaboração como valor institucional e acreditamos que, juntos, teremos mais impacto”, afirma Juana Kweitel, diretora de programas da Conectas.
Agimos também em situações de envergadura internacional. Pressão constante e iniciativas para influenciar políticas públicas, expuseram as violações e aumentaram a cobrança em cima das autoridades para o respeito aos direitos dos migrantes haitianos que chegam ao Brasil. Acompanhamos e atuamos de perto em vários episódios da crise, como o fechamento do abrigo em Brasiléia (Acre), que não oferecia condições dignas e a abertura de um abrigo em SP para receber aqueles migrantes que passaram a vir a cidade.
A ação com migrantes, é parte de uma luta mais ampla para que a política externa brasileira seja entendida como uma política pública. “Em uma democracia, precisamos saber e poder participar de decisões tomadas pelo Brasil e que afetam a vida de milhões de pessoas, além de nossas fronteiras – é para isso que trabalhamos”, diz Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas. Algumas iniciativas de participação popular foram fundamentais nesse sentido, como como a campanha ministro#euQueroSaber – para que o Ministro das Relações Exteriores soubesse que age em nome dos brasileiros – e a sabatina da embaixadora brasileira em Genebra.
Neste período, Conectas também fortaleceu sua atuação com parceiros do Sul Global e contribuiu com o diálogo e troca de experiências sobre os desafios da defesa dos direitos humanos no mundo. Isso foi feito pelos mais de 100 participantes, de 40 países, que vieram ao 13º Colóquio Internacional de Direitos Humanos e com a publicação das edições 17, 18 e 19 da Revistas SUR. Há poucos dias, foi lançada também a edição comemorativa de 10 anos da SUR, com artigos de mais de 50 defensores e acadêmicos de renome internacional. “A troca de experiência e ações colaborativas entre defensores da África, Ásia e América Latina está no DNA da Conectas: nascemos para conectar”, explica Ana Luiza Cernov, do Programa Sul-Sul da organização.
Por fim, no tema de empresas e direitos humanos, Conectas atuou para cobrar mais transparência das instituições financeiras de desenvolvimento, com a pesquisa sobre parâmetros de direitos humanos que podem ser implementados pelo BNDES em seus empréstimos e acompanhamento do tema em âmbitos da ONU.
Essas e outras iniciativas da Conectas estão em site lançado essa semana e que busca dar mais transparência e informações sobre as atividades que desenvolvemos e impacto que atingimos. O site traz ainda informações sobre as estratégias de comunicação e sustentabilidade da organização. “Foi um ano de desafios e sucessos. Nessa primeira fase, o site contém atividades e resultados de janeiro de 2013 e junho de 2014″, afirma Muriel Asseraf, coordenadora de desenvolvimento institucional da organização.
“O comprometimento da Conectas com os direitos humanos acontece todos os dias, incansavelmente. No final do ano, todos fazemos um balanço. Para nós esse foi um ano de desafios e sucessos. Esperamos continuar ampliando o conhecimento e o apoio da sociedade brasileira às nossas causas”, finaliza Asseraf.