O debate político internacional está marcado hoje, em quase todas as esferas, por uma pergunta difícil de responder: vivemos num mundo multipolar em relação à proteção dos direitos humanos? Ou não superamos ainda a era das potências hegemônicas?
Ao dedicar o XIII Colóquio Internacional de Direitos Humanos à “nova ordem global”, Conectas esperava ir a fundo não apenas no papel dos Estados, mas também no questionamento sobre o momento atual das mais de 100 organizações de 40 países que estiveram presentes nos cinco dias do evento (de 12 a 19 de outubro), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP.
Há realmente um nova ordem global em direitos humanos? Os países que vivem cotidianamente violações de direitos humanos podem se pronunciar internacionalmente sobre violações cometidas em outros países, ou isso é incoerente? Como os novos pólos econômicos e as empresas afetam a proteção de direitos? Há efeitos da nova ordem na ONU e os sistemas regionais de direitos humanos? ONGs do Sul Global podem agir e opinar sobre temas internacionais, ou devem ater-se às causas particulares de seu contexto? E qual o papel dos financiadores – que são esmagadoramente do Norte – em uma nova ordem “multipolar”? Esses foram as principais perguntas tratadas durante o encontro.
“Foi um privilégio poder discutir perguntas tão complexas e atuais com um grupo tão diverso e qualificado de defensores de direitos humanos. Construímos, coletivamente, um mosaico que tenho a certeza que fortalecerá a ação de cada um de nós” disse Lucia Nader, diretora executiva da Conectas. “Vivemos um momento de indagações com relação tanto ao cenário nacional de diversos países do Sul Global, evidenciado pelos protestos de rua, quanto ao cenário internacional. É fundamental que o movimento de direitos humanos saiba dialogar e sintonizar suas ações nesses novos contextos” completa Juana Kweitel, diretora de programas da organização.
TEDx e Comissão Extraordinária de Direitos Humanos
O XIII Colóquio Internacional de Direitos Humanos foi marcado pela mudança de metodologia em relação às 12 versões anteriores – o que permitiu a realização de duas atividades abertas ao público, o TEDx Rua Monte Alegre e a Comissão Extraordinária Internacional de Direitos Humanos.
Veja aqui os vídeos de todas as apresentações do TEDx.
A interatividade também foi ampliada: no último dia do evento, por exemplo, a plateia pode votar e interagir com os palestrantes por meio de uma aparelho eletrônico.
Veja o resultado das pesquisas sobre financiamento de ONGs e sociedade civil.
Durante as pesquisas em tempo real, os participantes puderam ver o resultado das discussões sobre multipolaridade, inconsistências, economia, sistemas de proteção e sustentabilidade das organizações da sociedade civil:- Para 58% dos defensores, vivemos uma nova ordem global.
– 70% acreditam que as violações ocorridas dentro das fronteiras nacionais não devem limitar a atuação internacional dos Estados.
– Para 74%, a emergência de novas forças econômicas, sejam elas Estados emergentes ou empresas transnacionais, intensificam as violações de direitos humanos.
– Esse novo arranjo afeta os sistemas internacionais e regionais de direitos humanos para 87% dos participantes.
– A sustentabilidade financeira das ONGs também é impactada para 76%.
A tecnologia e a internet foram fundamentais para o evento antes mesmo da chegada dos participantes a São Paulo. A Conectas publicou em seu site leituras prévias de cada um dos eixos temáticos do encontro e disponibilizou em forma de gráficos os resultados das pesquisas feitas com os participantes.
Quando o encontro começou, o Twitter e o Facebook foram acionados para garantir a cobertura em tempo real de tudo o que acontecia nas salas da PUC.
Veja aqui como foi a interação dos participantes através do Twitter.
O YouTube, por sua vez, permitiu a participação de quem não conseguiu vir para o Brasil.
Veja os depoimentos de Chris Stone (Open Society Foundations), David Petrasek (Universidade de Ottawa) e Xiaorong Li (acadêmica e ativista chinesa de direitos humanos).
Essa interação intensa entre participantes e palestrantes culminou, no final do evento, com a publicação de duas declarações conjuntas: a Carta de Monte Alegre, contra as violações cometidas contra a população afrodescendente na América Latina e na África, e uma monção contra a criminalização dos protestos no Brasil.
Veja aqui todas as fotos do XIII Colóquio Internacional de Direitos Humanos.