A Conectas acompanha com apreensão o colapso do sistema de saúde em Manaus, que vem sofrendo com o aumento exponencial dos casos de Covid-19, escassez de leitos e fim do estoque de oxigênio. De acordo com a CDMH (Comissão de Direitos Humanos e Minoria) da Câmara dos Deputados, na noite de quarta para quinta-feira (14), 19 pessoas teriam morrido na capital amazonense em razão da falta de oxigênio.
Outros relatos que circularam nas redes sociais e na imprensa mostraram o desespero dos profissionais de saúde, que necessitaram se revezar em aparelhos de respiração manual para poder manter vivos os pacientes.
Nesta semana, o ministro da saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, esteve em Manaus para averiguar a situação da pandemia na cidade. Uma das pautas do ministro foi forçar as autoridades locais a adotarem o tratamento precoce à Covid-19. Tal protocolo preconiza a utilização de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, entre outros, para reduzir o agravamento da infecção. Tais medicações, entretanto, não possuem benefício comprovado para a doença e foram desaconselhados por entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Infectologia. Tampouco autoridades internacionais como a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabelecem qualquer protocolo do tipo contra a doença.
Reconhecido por ser especialista em logística, o general Pazuello não foi capaz de prever o fim do oxigênio em Manaus e antecipar medidas para evitar mais mortes? Esta é a pergunta que não pode calar.
Há meses os especialistas alertaram para os riscos das festas de fim de ano e para o relaxamento das medidas de isolamento social. Bolsonaro e seus seguidores, entretanto, vêm confrontando as autoridades locais, incitando a aglomeração, ridicularizando o uso de máscaras, minimizando os riscos da pandemia e recomendando medicações sem benefícios comprovados contra a Covid-19.
O caos que se instaurou em Manaus é prenúncio do que pode vir a acontecer nas próximas semanas em outras partes do país e, apesar de a pandemia se estender por mais de dez meses, o governo federal é incapaz de apresentar um plano sério, pautado na ciência, para reduzir seu impacto e salvar vidas.
Não há outra conclusão possível senão a de que o governo federal, sobretudo o presidente da República e seu ministro da saúde são os responsáveis diretos pelo colapso do sistema de saúde e pelas vidas perdidas, demonstrando sua incapacidade de conduzir o país. Diante deste cenário, não resta outra opção senão cobrar a remoção imediata do general Eduardo Pazuello e uma inflexão radical na postura negacionista do governo Jair Bolsonaro.
Prestamos nossa mais profunda solidariedade às vítimas, às famílias e ao povo do Amazonas e não mediremos esforços em cobrar atitudes responsáveis das autoridades sanitárias. Como autoridades responsáveis pela condução da resposta do Estado Brasileiro à pandemia, tanto o ministro Pazuello como o presidente Bolsonaro devem ser responsabilizados pelos crimes contra a humanidade e de responsabilidade praticados na condução do governo federal durante a pandemia.