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21/01/2013

Tortura de 52 presos no Espírito Santo: organizações cobram ações concretas

Homens dizem que foram obrigados a passa 2 horas, sentados, nus, em piso fervendo. Fotos mostram queimaduras graves



Conectas recebeu na semana passada a grave denúncia de que 52 detentos da Penitenciária Estadual de Vila Velha III (PEVV III) foram obrigados a sentar, nus, durante duas horas – das 12h às 14h -, sobre o piso de uma quadra escaldante. Fotos recebidas pela organização mostram três deles com queimaduras extensivas de terceiro grau nas nádegas. De acordo com a denúncia, o fato ocorreu no dia 2 de janeiro, mas os presos foram mantidos sem contato com seus advogados, médicos ou familiares até o dia 10.

Conectas – que em 2010 denunciou na ONU a prisão de pessoas em contêineres, além de assassinato de presos e esquartejamento de corpos no sistema prisional capixaba – uniu-se agora à Nota Pública abaixo, que denuncia o ocorrido em janeiro em Vila Velha e lamenta que fatos como esse voltem a acontecer num Estado tão marcado pelas violações dos direitos humanos em presídios.

“Precisamos ir além das denúncias. É preciso que cada órgão público responsável, desde o governo capixaba ao governo federal, se encarregue de tomar medidas efetivas para que os culpados por esse e outros episódios de tortura sejam exemplarmente responsabilizados. Não é possível que estejamos periodicamente fazendo denúncias sobre um contexto que simplesmente não apresenta melhoras substantivas”, questionou Lucia Nader, diretora executiva da Conectas


NOTA PÚBLICA
As entidades signatárias vem a público manifestar repúdio aos fatos ocorridos na Penitenciária Estadual de Vila Velha III (PEVV III), onde 52 apenados sofreram lesões corporais graves decorrentes da permanência durante horas, sentados no piso de cimento quente da quadra de esportes da citada unidade prisional. O fato desses presos terem relatado que ficaram, após terem submetido a tortura, por uma semana em isolamento, sem receber assistência médica e sem contato com seus advogados, ou defensores, e com as suas famílias torna a situação ainda mais grave.

Essa indignação se firma no artigo 1º da Constituição Federal de 1988, segundo o qual a República Federativa do Brasil tem como fundamento a dignidade da pessoa humana, assegurando-se a todos a proteção contra a tortura e o tratamento desumano e degradante (art. 5º, inciso III) e contra a aplicação de penas cruéis (art. 5º, inciso XLVII).

O Estado deve proporcionar ao apenado o cumprimento de sua pena privativa de liberdade com o devido respeito e zelo à dignidade da sua pessoa e, episódios como esse, somente evidenciam a ineficácia do próprio Estado, face à falência de sua política penitenciária.

É necessária a rápida e eficiente apuração de tais fatos, para que episódios semelhantes sejam evitados, bem como os seus responsáveis sejam devidamente e adequadamente responsabilizados.

Esperamos que os órgãos públicos, a começar pelo Governador do Estado, mas também o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Polícia, o Conselho Nacional de Justiça, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, o Poder Judiciário, a Secretaria de Justiça do Estado conduzam as investigações e os procedimentos cabíveis de modo transparente, ágil, eficiente e isento. Que essas condutas não variem em função da repercussão pública do caso, e que todas as denúncias de tortura e maus tratos sejam consideradas graves e recebam respostas enérgicas do poder público. Sendo assim, esperamos que todos atuem no sentido de colocar um fim nas práticas de tortura no Estado do Espírito Santo e que suas ações sejam efetivas nesse sentido.

Vitória-ES, 16 de Janeiro de 2013.

Conselho Estadual dos Direitos Humanos

Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH/ES

Conectas Direitos Humanos

Justiça Global

Coletivo Fazendo Direito

Centro de Apoio aos Direitos Humanos – CADH

Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra

Centro de Defesa dos Direitos Humanos D. Tomás Balduíno

Centro de Defesa dos Direitos Humanos Pedro Reis

Fórum Estadual de Juventude Negra – FEJUNES

CJP – Comissao Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitoria ES

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