Por unanimidade, a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) vetou, nesta terça-feira, 6, o pedido de extradição do cidadão turco naturalizado brasileiro Ali Sipahi. Sipahi vive no Brasil há 12 anos e foi preso em abril a pedido do governo da Turquia, que o acusa de “apoiar e integrar um grupo terrorista”, classificação dada pelo presidente Erdogan ao Movimento Hizmet, fundado por um dos opositores a seu governo.
Em seu voto, o relator do processo, ministro Edson Fachin, justificou que a Lei de Migração (13.445/2017), em seu artigo 82, veta a extradição quando “o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção” e destacou a falta de garantia de um julgamento imparcial na Turquia. Seguiram o voto do relator os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e a presidente Carmen Lúcia.
“Em um contexto em que o Executivo tenta enfraquecer a Lei de Migração por meio da Portaria 666 e por demandas legislativas, criando deportações sumárias e violando o direito à defesa de migrantes, a decisão de hoje mostra um compromisso do STF com a legalidade e com a Constituição”, declara Camila Asano, coordenadora de programa da Conectas. “Esta decisão representa segurança jurídica às comunidades que buscam refúgio no Brasil e é um recado claro ao Planalto de que o Judiciário não deve tolerar tentativas de retirar direitos de migrantes”, complementa.
A perseguição contra opositores políticos por parte do governo turco tem sido criticada por entidades internacionais de direitos humanos e pela própria ONU. Em 2018, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos divulgou relatório reportando perseguição, detenções arbitrárias e métodos de punição coletiva a familiares de perseguidos políticos na Turquia.
Admitida como amicus curiae (amiga da corte) no caso, a Conectas foi representada pelo advogado Beto Vasconcelos. Em sua sustentação oral no STF, Vasconcelos afirmou que “a negativa da extradição será um sinal claro e inconteste de resistência e rechaço a qualquer governo, em qualquer canto do planeta, que queira flertar ou firmar compromisso com o autoritarismo, com a desconstrução de instituições democráticas, com o ataque à pluralidade, diversidade e voz da sociedade, com a violência e a violação de direitos humanos”.