Revista SUR celebra 10 anos da Conectas
Em artigos especiais, diretores e fundadores da organização debatem os desafios enfrentados e os que ainda estão por vir
“Ao fazer esse balanço, fica a certeza de que o apoio e a parceria de um amplo leque de pessoas e instituições foram fundamentais nessa caminhada”. Com essas palavras, Lucia Nader, Juana Kweitel e Marcos Fuchs, diretores da Conectas Direitos Humanos apresentam o caderno especial da 15ª edição da Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos.
“Nada do que é exposto nos artigos teria sido possível sem os participantes do Colóquio, os autores da SUR, os intercambistas da África Lusófona e os parceiros do Programa de Projeto de Política Externa e Programa de Justiça. Nada teria se concretizado sem a confiança de diversos financiadores que, desde 2001, acreditam e apoiam uma organização com causas ambiciosas e inovadoras. A todos, nossos mais sinceros agradecimentos”, diz a carta ao leitor que apresenta o tema. Em três artigos escritos por ex e atuais diretores, a Conectas compartilha sucessos, desafios e reflexões sobre a trajetória organização desde a sua criação, há dez anos.
A Construção de uma Organização Internacional do/no Sul
No primeiro artigo, Malak El-Chichini Poppovic (esquerda), fundadora e ex-diretora executiva da Conectas, e Lucia Nader, atual diretora executiva, falam sobre “A Construção de uma Organização Internacional do/no Sul” compartilhando experiências, lições aprendidas e conquistas da organização. Por meio da reconstrução de memórias institucionais, as autoras apresentam uma narrativa da sociedade civil na nossa época, resgatando a cooperação Sul-Sul num mundo globalizado, com o processo de construção de uma organização capaz de unir esforços para traduzir direitos em realidade, superando fragmentações, isolamentos e obstáculos.
As autoras ressaltam que o nome “Conectas” foi escolhido para transmitir a ideia de criar ligações e reunir pessoas e organizações e o que o logotipo escolhido, uma bússola que aponta para o Sul, ilustra uma opção política dos fundadores da organização em promover a cooperação sul-sul. Malak e Lucia dizem ainda que Conectas sempre esteve ciente da existência de diversos “Suls” e diferentes caminhos para a democracia, mas que a intenção foi (e ainda é) trazer novas vozes para o debate internacional, sem excluir o norte. Por fim, são enumerados os principais programas e projetos da Conectas, desde a sua criação em 2001 – alguns dos quais são analisados ??mais detalhadamente nos artigos seguintes.
Advocacia Estratégica em Direitos Humanos
O segundo artigo foi produzido por Oscar Vilhena Vieira, diretor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), além de fundador, ex-diretor e hoje membro do Conselho da Conectas, e por Eloísa Machado de Almeida, ex-coordenadora do Programa de Justiça da Conectas e hoje consultora da organização. Ambos falam da “Advocacia Estratégica em Direitos Humanos”, com base na experiência da Conectas que, situada no Brasil, não podia deixar de abordar e dar respostas a questões dramáticas de direitos humanos no âmbito nacional e local. Os autores analisam principalmente o uso do litígio estratégico no Brasil, resgatando as origens do litígio de interesse público e demonstrando os efeitos complexos do processo de democratização do País no contencioso dos direitos humanos.
Oscar e Eloísa afirmam que, embora a Constituição Brasileira de 1988 – chamada Constituição Cidadã – tenha estabelecido uma carta de direitos extremamente generosa e abrangente, ela não incorporou uma agenda mais contemporânea no que se refere, por exemplo, à questão de gênero. Além disso, o federalismo brasileiro tem se mostrado, em diversos casos, um obstáculo à plena implementação dos direitos. Com base nesses e outros fatos expostos no artigo, os autores demonstram como o acesso à Justiça não é uma tarefa fácil. Ambos recuperam a história do programa de Justiça da Conectas bem como o seu trabalho de advocacia na expansão dos direitos fundamentais, incluindo por meio do instrumento de amicus curiae no Supremo Tribunal Federal brasileiro.
Uma Revista do Sul com Alcance Global
No terceiro artigo, Pedro Paulo Poppovic e Juana Kweitel, ambos tendo trabalhado como editores da SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos e Juana, hoje diretora de programas da Conectas, resgatam 8 anos de atividade editorial a partir de perguntas diretas, como o porquê, para quê, para quem a SUR foi originalmente concebida. Os autores ressaltam que, criada em 2004, a revista fez uma aposta: dar voz aos autores do Sul e propiciar uma arena intelectual onde as perspectivas do norte e do sul pudessem ser debatidas. Esse objetivo é ainda premente e a ele soma-se o desafio adaptar a SUR a um contexto político e econômico em transformação.
Pedro Paulo e Juana também argumentam que a SUR pode ser vista como um exemplo de como uma ONG pode ser capaz de lidar com todos os desafios para manter e expandir uma revista trilíngue (Português, Espanhol e Inglês) por meio de parcerias e inovações editoriais.
A Revista SUR é uma publicação da Conectas voltada para a promoção do debate crítico sobre a prática de ativistas de direitos humanos do Sul Global. Publicada desde 2004, a SUR – Revista Internacional de Direitos Humanos, é uma publicação trilíngue disponível na íntegra pelo site www.revistasur.org.