Em reunião realizada hoje (4/2) em Londres, dezenas de países reuniram cerca de US$ 6 bilhões em doações para ajudar na reconstrução da Síria e no atendimento às vítimas do conflito ao longo de 2016, segundo declarações preliminares do primeiro-ministro britânico David Cameron. Outros US$ 4 bilhões já foram prometidos até 2020. Esse é o maior anúncio de doações já feito em um único dia para o alívio de uma crise humanitária, mas ficou longe da meta de US$ 8,9 bilhões estabelecida pelo OCHA (Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU) para este ano com base em avaliações sobre a extensão da crise.
O Brasil anunciou doação de US$ 1,3 milhão através da Acnur (a Agência da ONU para os Refugiados) e se dispôs a enviar, ainda, o equivalente a US$ 1,85 milhão em arroz. No ano passado, em promessa similar, o país afirmou que estaria disposta a enviar US$ 5 milhões em alimentos, mas a doação nunca aconteceu, segundo informado pelo Itamaraty por telefone à Conectas, por falta de meios para viabilizar o transporte até a região.
A nova doação indica um comprometimento crescente do governo federal com a crise, mas o valor total ainda é significativamente inferior ao montante enviado por países com PIB (Produto Interno Bruto) similar ao brasileiro. É o caso da Itália, com quase US$ 29 milhões doados desde 2013, ou do Canadá, com US$ 204 milhões, ainda segundo dados oficiais do OCHA.
“Dois pontos devem ser destacados: o primeiro é a ida do próprio chanceler Mauro Vieira à reunião; o segundo é o anúncio da nova doação, a maior já feita até agora pelo governo brasileiro para as vítimas na Síria neste fórum”, afirma Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas. “São dois sinais positivos de que o Brasil quer ser parte ativa da solução para o conflito”, completa.
A guerra na Síria, iniciada em 2011 como consequência da repressão de protestos contrários ao presidente Bashar Al-Assad, já deixou pelo menos 250 mil mortos e 4,2 milhões de refugiados, segundo as Nações Unidas – o que faz desta a maior emergência humanitária da atualidade.
Segundo comunicado publicado por mais de 90 organizações humanitárias e de direitos humanos de todo o mundo na véspera do encontro em Londres, entre elas a Conectas, uma média de 50 famílias sírias deixam suas casas por hora, a cada dia, desde que o conflito começou. Ainda segundo essa coalizão, 13,5 milhões de pessoas dentro do país dependem de ajuda emergencial.
Leia aqui a íntegra do comunicado conjunto das organizações.
O Brasil tem exercido um papel importante na acolhida de refugiados sírios através de uma política de concessão de vistos humanitários iniciada em 2013 e renovada por dois anos em setembro de 2015. Segundo nota emitida pelo Ministério de Relações Exteriores publicada na quarta-feira (3/2), mais de dois mil sírios já foram beneficiados pela medida.
Segundo Camila Asano, o Brasil deve eliminar totalmente a necessidade de visto para sírios e pode, ainda, criar uma política de reassentamento solidário aos refugiados – uma possibilidade já levantada, inclusive, pelo Ministério da Justiça.
“Hoje, só são beneficiadas pelo visto humanitário as famílias que possuem recursos para pagar a passagem de avião até o Brasil, que é bastante cara, e isso limita o alcance da iniciativa”, afirma. “Precisamos ser mais ousados e propositivos. Uma política de reassentamento solidário, por exemplo, poderia viabilizar o transporte de famílias refugiadas que dependem de ajuda humanitária.”