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11/09/2014

Prisão sem julgamento

Relatório do CIDH critica crescimento de prisões provisórias no Brasil

Relatório do CIDH critica crescimento de prisões provisórias no Brasil Relatório do CIDH critica crescimento de prisões provisórias no Brasil

Relatório sobre o uso da prisão preventiva nas Américas, lançado pela CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA) no dia 5/9 em São Paulo, critica aumento no número de prisões provisórias no Brasil e outros países das Américas.

O documento ressalta que, em dezembro de 2012, 37,6% da população carcerária brasileira era formada por detentos sem condenação definitiva. Em 2009, a taxa era de 32,2%. Os dados, obtidos juntos ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional), não consideram as pessoas presas em delegacias, que hoje somam mais de 41 mil.

O número de presos provisórios no resto do continente seguiu a mesma tendência: entre 2009 e 2012, segundo a CIDH, o aumento foi de 27,7%. Em alguns países, como é o caso da Bolívia, o índice supera os 80%.

“O relatório mostra que, infelizmente, nestes países, a prisão preventiva é usada de forma excessiva, o que acaba só aumentando a população carcerária e levando a situações críticas e indignas”, afirmou James Cavallaro, relator da CIDH, durante lançamento do informe na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Para Cavallaro, a prisão preventiva destrói a vida de milhares de pessoas que pagam por crimes que não cometeram. “[Esse procedimento] viola regras claras dos tratados internacionais que os países da América ratificaram, especialmente a Convenção Americana, também assinada pelo Brasil”, enfatizou o relator.

“E é preciso ver quem é que está lá [nas prisões]. Quais são as vidas que estão aprisionadas. Você verá que se trata da juventude negra e pobre desse país, majoritariamente. E não é diferente em nenhum estado que temos trabalhado”, ressaltou Sandra Carvalho, da Justiça Global, entidade que compõe a Rede de Justiça Criminal.

Renato De Vitto, diretor do Depen (Departamento Penitenciário Nacional/MJ), lembrou que alguns índices estaduais de prisões provisórias superam a média nacional, como é o caso do Amazonas (67%), do Piauí (65%) e de Minas Gerais (63%). De Vitto também apontou que “as questões relativas à segurança pública, à política criminal e à situação penitenciária devem, necessariamente, ser compartilhadas entre os três poderes nos três níveis da federação”.

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Segundo Luis Lanfredi, coordenador do DMF/CNJ (Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional do Justiça), o intenso crescimento da população carcerária nos últimos anos coincide exatamente com a abertura democrática. “O fenômeno da democratização veio acompanhado de um culto ao punitivismo e ao encarceramento massivo sem responsabilidade”, concluiu.

Aberto ao público, o evento foi organizado pela Rede Justiça Criminal, Faculdade de Direito da USP e Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo.

Leia aqui a íntegra do relatório da CIDH.

Denúncia na ONU

Hoje, diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil perdeu a oportunidade de dar respostas à situação. Os números alarmantes também eram destaque em relatório apresentado aos países do CDH pelo Grupo de Trabalho sobre detenção arbitrária. Em seu discurso, a embaixadora do País em Genebra, Regina Dunlop, não fez qualquer menção aos fatores que geram e intensificam o uso abusivo da prisão provisória. Leia aqui o resumo da reunião.

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