Às vésperas da votação do projeto de lei (4471/2012) que acaba com os chamados autos de resistência – termo usado no registro de mortes cometidas pela polícia, frequentemente utilizado para ocultar execuções –, 10 organizações da sociedade civil, entre elas a Conectas, apresentaram documento com sete razões técnicas para apoiar a proposta. O PL já passou por duas comissões (Constituição e Justiça e Combate ao Crime Organizado) e deve ser votado pela plenária na quarta-feira, 10/12, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Se aprovado, segue para o Senado.
Entre as razões apresentadas pelas entidades para apoiar a proposta está a vulnerabilidade dos jovens negros da periferia, vítimas preferenciais da violência policial, a necessidade de investigar e responsabilizar oficiais envolvidos em crimes e a origem antidemocrática da terminologia, criada em 1969, durante a ditadura militar.
“Segundo o Mapa da Violência 2014, o número de negros mortos em decorrência de ações policiais em São Paulo para cada 100 mil habitantes é três vezes maior que o registrado entre a população branca. Como mostra levantamento feito pela Universidade Federal de São Carlos, no período de 2009 a 2011, 61% das vítimas mortas pela polícia no estado de São Paulo eram negras”, diz trecho do documento.
De autoria de Paulo Teixeira (PT-SP), Fabio Trad (PMDB-MS), Delegado Protógenes (PCdoB) e Miro Teixeira (PDT-RJ), o PL 4471 reforça a obrigatoriedade de abertura de inquéritos em todos os casos de morte causadas pela polícia, obriga a preservação da cena do crime, veta o transporte de vítimas pelos policiais e substitui as expressões ‘auto de resistência’ e ‘resistência seguida de morte’, criadas durante a ditadura militar, por ‘morte decorrente de intervenção policial’.
“O PL dá um passo no sentido de acabar com essa ‘pena de morte’ que, apesar de proibida pela Constituição, continua sendo aplicada nas ruas da periferia, sobretudo contra jovens e negros. São eles as principais vítimas da instituição do auto de resistência – um termo carregado de simbolismo no sentido de negar o direito à vida e à defesa da população mais vulnerável”, afirma o advogado Rafael Custódio, coordenador de Justiça da Conectas.
Leia aqui a íntegra das sete razões para apoiar o PL 4471/2012:
Apoios
Evento realizado em São Paulo na última quinta-feira, 4/12, reuniu organizações, autoridades e movimentos em apoio à aprovação do PL. O deputado Paulo Teixeira, um dos autores do texto, afirmou que atrás dos autos de resistência há muitas execuções. “O fato é que de 12 mil registros estudados, 60% não comprovavam a resistência. Não havia pólvora nas mãos da pessoa abordada, da vítima, e tampouco a cena do crime comprovava a resistência”, explicou.
“O que queremos é investigar. Uma investigação independente, com a participação do Ministério Público e da Defensoria Pública. Queremos impedir a mudança na cena do crime e exigimos uma documentação muito pormenorizada da perícia.” Para Teixeira, só assim será possível acabar com a “licença para matar” das polícias.
Durante o ato, Teixeira recebeu apoio do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), do deputado estadual Adriano Diogo (PT) e do secretário de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo, Rogério Sotilli. Entidades como o AfroReggae, Educafro, Associação Juízes para a Democracia e Coletivo Arrua também estavam presentes no evento.
Outra moção de apoio à aprovação do PL 4471 partiu da Defensoria Pública de São Paulo. Em parecer enviado ao Congresso com sugestões para aperfeiçoar o texto, o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos afirmou que os casos registrados como autos de resistência “raramente chegam a ser apreciados a fundo pelo Poder Judiciário em razão da inutilização do local do crime ou, quando menos, em razão de perícias elaboradas sem detalhes mínimos para a verificação da dinâmica destas ocorrências”.