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11/08/2021

ONU pede investigação “independente, completa e imparcial” no caso Jacarezinho

Em resposta aos relatores das Nações Unidas, Brasil ignora índices de violência e diz promover “cultura de paz”

Manifestantes pintam de vermelho quatro cadeiras simulando sangue. Atrás, uma faixa diz Manifestantes pintam de vermelho quatro cadeiras simulando sangue. Atrás, uma faixa diz "Não foi operação foi chacina".

Relatores da ONU pediram uma investigação “independente, completa e imparcial sobre os assassinatos” da chacina de Jacarezinho (RJ). Em resposta a esta comunicação das Nações Unidas, o governo brasileiro afirmou que “promove cultura de paz” entre os agentes de segurança e moradores. O documento dos relatores e a carta do Brasil, emitidos em 31 de maio e de 21 de julho, respectivamente, estavam sob sigilo e vieram recentemente a público. 

No início de maio, uma operação da Polícia Civil na favela de Jacarezinho deixou 27 mortos, tornando-se a chacina mais letal da história da capital fluminense, de acordo com o  Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense. 

A comunicação divulgada semana passada é assinada pelos relator para o combate contra a tortura, Nils Melzer, e o relator sobre execuções sumárias, Morris Tidball-Binz e atende ao apelo urgente que entidades da sociedade civil fizeram à ONU na época dos acontecimentos. As organizações relataram uma série de ilegalidades e erros na ação policial. 

Para os especialistas, “todos aqueles responsáveis ​​por homicídios ilegais, incluindo aqueles que ordenaram extrajudicialmente, execuções sumárias ou arbitrárias devem ser levadas à justiça e as vítimas devem ter ser concedida reparação integral, incluindo garantias de não repetição”. Eles pedem ainda que as autoridades tomem as medidas necessárias para proteger testemunhas e sobreviventes de possíveis retaliações.

Brasil ignora racismo estrutural 

Ainda que trate de um caso ocorrido no Estado do Rio de Janeiro, é responsabilidade dos representantes diplomáticos do Brasil dialogar com a ONU. Assim, por meio de carta assinada pelos Ministério da Justiça e Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o país afirmou promover  uma “cultura de paz” entre agentes e moradores e que oferece treinamento para policiais em direitos humanos e preservação da vida.

Os dados, porém, mostram que o país vive uma cultura de violência e que a chacina de Jacarezinho não é exceção. Em 2020, o Brasil registrou 6.416 mortes por intervenção policial, o maior número desde 2013, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Do total das vítimas, 78,9% são pessoas negras. 

Para Gustavo Huppes, assessor de advocacy internacional da Conectas, “a resposta brasileira não reconhece o racismo estrutural operante nas ações policiais do Brasil, que está sendo denunciado, com base em dados e informações concretas, por entidades da sociedade civil e por movimentos sociais, inclusive em instâncias da ONU”. 

Uma das denúncias recentes é o pronunciamento realizado, em julho deste ano, por organizações brasileiras contra o descumprimento da ADPF-635, a ADPF das Favelas, por agentes de segurança pública do Rio de Janeiro, na 47ª sessão do CDH (Conselho de Direitos Humanos) das Nações Unidas. 

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