Em ofício encaminhado ao Itamaraty, especialistas das Nações Unidas e da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), órgão vinculado à OEA (Organização dos Estado Americanos), cobram que o governo de São Paulo reveja sua legislação recém-criada que endurece as regras para a realização de protestos no Estado.
A manifestação dos órgãos internacionais acontece após organizações da sociedade civil terem denunciado o decreto (64.074/2019), promulgado por João Dória Jr. em janeiro deste ano.
Os relatores Clément Voule (relator especial da ONU para liberdade de reunião e associação pacífica), Michel Forst (relator especial da ONU para situação dos defensores de direitos humanos) e Edison Lanza (relator especial da CIDH para liberdade de expressão) apontam que Brasil tem obrigações legais com compromissos assumidos internacionalmente, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americano de Direitos Humanos, ambos ratificados pelo Brasil em 1992.
“Estamos preocupados com o fato de que a implementação desse decreto possa servir para inibir manifestações espontâneas e protestos sucessivos e, portanto, viole o direito à liberdade de manifestação”, cita trecho do documento.
Decreto em SP
Em 19 de janeiro, o governador João Dória Jr. promulgou o Decreto 64.074/2019, regulamentando a Lei 15.556/2014, que endurece as condições para manifestações em São Paulo, de forma que, na avaliação da sociedade civil, viola o direito à livre associação e reunião.
A ordem estabeleceu a exigência de aviso prévio de cinco dias para a realização de um protesto e criminaliza o uso de máscaras em manifestações, entre outros pontos.
Na época, a medida do governador foi motivo de repúdio e denúncia das organizações Artigo 19, Conectas, Condepe (Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana), Defensoria Pública de São Paulo IBCCRIM, ITTC e MPL (Movimento Passe Livre).
“A partir da análise do Decreto, bem como do contexto em que é publicado, fica evidente que faz parte de um cenário de intensificação e sofisticação dos instrumentos de repressão, criminalização e restrição do direito de protesto”, apontava o apelo urgente enviado aos relatores.