Conectas e outras 22 organizações de direitos humanos enviaram um apelo urgente à ONU e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) contra o Projeto de Lei 1904/2024, que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio. O documento, enviado na quinta-feira (13), solicita das autoridades internacionais medidas de interlocução junto ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para que revogue qualquer iniciativa legislativa que vise criminalizar o aborto.
O Projeto de Lei 1904/2024 propõe alterar o Código Penal para punir com reclusão de seis a vinte anos o aborto realizado após 22 semanas de gestação, inclusive nos casos de gravidez resultante de estupro. Esta pena é a mesma prevista para homicídio simples e quase equivalente à pena do estuprador. Atualmente, o Código Penal brasileiro não pune o aborto em casos de estupro e não impõe limite de tempo para o procedimento nesses casos, além de não punir o aborto quando não há outro meio de salvar a vida da gestante.
Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou um requerimento para acelerar a tramitação desse projeto, que poderia ter sido aprovado se não fosse pela resistência da sociedade civil. No entanto, a votação da urgência foi adiada e o projeto pode ser votado a qualquer momento, sem passar pelas comissões.
As principais vítimas dessa medida seriam crianças, que constituem uma grande proporção daqueles que buscam serviços de aborto nessa fase da gravidez, principalmente em casos de abuso sexual, onde a descoberta da gravidez costuma ser tardia. Dados alarmantes mostram a gravidade da situação:
O apelo urgente enviado à ONU e à CIDH destaca que a criminalização do aborto viola os direitos de saúde sexual e reprodutiva das mulheres, constituindo uma forma de violência de gênero que pode ser considerada tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante, conforme a Recomendação 35 do Comitê da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW).
As organizações subscritoras solicitam que as autoridades brasileiras não imponham barreiras desnecessárias ao acesso das vítimas aos serviços de saúde, revoguem qualquer iniciativa legislativa que vise criminalizar o aborto, publiquem diretrizes nacionais que reforcem a ausência de limites gestacionais para o aborto legal e cessem a investigação criminal e perseguição de profissionais de saúde que realizam abortos legais. Também pedem uma campanha pública para informar a população sobre a legalidade do aborto em certas circunstâncias e onde encontrar serviços de referência.
Católicas pelo Direito de Decidir
Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde
Ipas
Conectas Direitos Humanos
Rede Médica pelo Direito de Decidir – Global Doctors for Choice / Brasil
CLADEM/Brasil
Criola
Center for Reproductive Rights
Portal Catarinas
Grupo Curumim
CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria
Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras
Instituto Terra, Trabalho e Cidadania
CEPIA – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação
Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
Campanha Nem Presa Nem Morta
Cunhã Coletivo Feminista
Anis – Instituto de Bioética
Projeto Vivas
Cravinas – Clínica de Direitos Humanos e Direitos Sexuais e Reprodutivos da
Faculdade de Direito da Universidade de Brasília
Frente Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto