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31/01/2012

‘O mundo tem a obrigação de agir e proteger os civis na Síria’

Para ativista sírio, medidas devem incluir embargo e sanções

Para ativista sírio, medidas devem incluir embargo e sanções Para ativista sírio, medidas devem incluir embargo e sanções

São Paulo / Oslo – Com relatos de mais de 6.500 mortes e o descrédito da missão de observadores da Liga Árabe, a Síria vem se convertendo a cada dia no palco de uma tragédia, com consequências não apenas geopolíticas, mas também em termos de direitos humanos.

Preocupada com a posição do governo brasileiro – que há cinco meses participou do envio de uma delegação do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) à Síria, cujos resultados foram insatisfatórios – a Conectas resolveu dar voz a um dos mais ativos militantes sírios de direitos humanos, o jornalista Massoud Akko, que vive exilado na Noruega, temendo a perseguição do governo de Bashar Assad.

Para a Conectas, o Brasil vem adotando posições controversas na ONU em relação à Síria. Nesta conversa, Massoud diz que a comunidade internacional deve adotar urgentemente medidas de pressão, como sanções pontuais e embargos, não apenas contra membros do governo sírio, mas também contra países que ofereçam apoio militar a Assad.

Qual a situação na Síria agora? Você tem acesso a números atualizados de mortos, presos, refugiados, deslocados internos e desertores do Exército?

O regime na Síria ainda está matando pessoas durante manifestações e aglomerações de civis. Registramos todos os dias os nomes de dezenas de manifestantes mortos em diversas cidades do país. As autoridades estão usando tanques, artilharia antiaérea, artilharia pesada, fuzis Kalashnikov, armas leves e atiradores de elite.

Não possuímos o número exato de mortos, mas de acordo com o website do Centro de Documentação de Violações na Síria (Violations Documentation Center in Syria, em inglês – website: www.vdc-sy.org), mais de 6.500 pessoas foram mortas pelas autoridades desde 15 de março de 2011, dentre essas, 428 crianças. Desde o início dos protestos, mais de 18 mil pessoas foram presas.

De acordo com nossas fontes há mais de 15 mil refugiados sírios na Turquia, Líbano e Jordânia. Com relação aos deslocados internos os números são enormes.

Nós não temos os números precisos das deserções no Exército, mas de acordo com os líderes do Exército Livre Sírio (Free Syrian Army, em inglês) mais de 50 mil oficiais e soldados desertaram.

Como você avalia a missão de observadores da Liga Árabe na Síria?

Eles foram até lá para monitorar o fim de todos os atos de violência cometidos por qualquer uma das partes em cidades e áreas residenciais, o que não aconteceu, pois as autoridades sírias ainda estão matando pessoas; acabar com a repressão governamental e das forças especiais sírias, conhecidas como Shabiha, aos manifestantes pacíficos; garantir que as autoridades libertem as pessoas que foram presas nos eventos relacionados aos levantes populares; garantir a retirada e evacuação de todas as manifestações armadas das cidades e áreas residenciais; e verificar se o governo sírio permitiu acesso da mídia árabe e internacional à Síria. De todos esses pontos, nenhum foi atingido. Então o que essa missão fez na Síria?

Além disso, o comandante da missão é procurado pelo Tribunal Penal Internacional por acusações de envolvimento em massacres em Darfur, no Sudão.

O que a comunidade internacional deveria fazer?

Nós queremos que a comunidade internacional apoie o Protocolo da Liga Árabe e monitore sua aplicação num prazo máximo de duas semanas. Se o prazo não for respeitado, a comunidade internacional deve intervir para proteger de todas as formas possíveis os civis na Síria.

Para tanto, há seis condições, começando por uma rodada de sanções capaz de inibir qualquer apoio militar que possa vir do Irã, da Rússia ou da África do Sul. Em segundo lugar, devem ser aplicadas sanções direcionadas ao alto escalão sírio. Além disso, o caso deve ser levado ao Tribunal Penal Internacional. Sanções econômicas a funcionários do governo e a suas famílias devem ser aplicadas, além do rastreamento do dinheiro que chega à Síria pelo Iraque e pelo Líbano. Por fim, deve ser decretada uma zona de exclusão aérea e corredores humanitários.

Está na hora de a Rússia compreender o futuro sangrento que espera a Síria, caso eles continuem a apoiar o regime Assad do modo como estão fazendo hoje.

O que o Brasil pode fazer em relação à crise de direitos humanos na Síria?

O Brasil deveria instar o governo sírio a aceitar a visita de observadores internacionais (além dos enviados pela Liga Árabe). A presença de brasileiros e observadores de outros países seria algo bom para a Síria hoje. Além disso, a oposição síria e os defensores de direitos humanos deveriam poder visitar o Brasil e ter diálogo com o governo brasileiro e organizações de direitos humanos.

 

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