O número de pessoas no mundo com acesso à internet subiu, entre 2009 e 2014, de 2 para 3 bilhões e chegou a cerca de 40% da população global, segundo a União Internacional de Telecomunicações da ONU. Este crescimento, acompanhado do maior uso de novas tecnologias digitais, leva organizações de direitos humanos a pensarem em novas estratégias para influenciar as atividades políticas.
Mas se proporcionam para ativistas novas possibilidades, os avanços também têm o potencial de beneficiar violadores de direitos humanos. O tema é tratado em três artigos na edição 20 da Revista Sur.
“A tecnologia digital revolucionou o campo dos direitos humanos”, afirmam Mallika Dutt e Nadia Rasul, respectivamente, presidente e assessora da Breakthrough, ONG com sede na Índia e especializada no combate à violência contra a mulher. O artigo diz que “as novas tecnologias de informação e comunicação não apenas aumentaram as formas tradicionais de ativismo na última década, como mudaram a própria natureza do advocacy”.
Veja vídeo de Mallika Dutt no lançamento da SUR 20 em Nova York:
Dutt e Rasul enfatizam que, ao amplificar as vozes de diferentes comunidades, a tecnologia digital transformou as oportunidades, os desafios e os riscos para todos no campo dos direitos humanos. O que inclui também os que violam estes direitos.
Elas pontuam que a pornografia infantil, o tráfico de seres humanos e a prática da escravidão moderna são violações em ascendência nos últimos anos, em grande parte por causa dos novos meios digitais. Por outro lado, as autoras citam como exemplo positivo os blogueiros e jornalistas que exerceram papel importante nas revoltas egípcias dos últimos anos ao expor a brutalidade da polícia por vídeos e imagens compartilhados em tempo real no Twitter.
Acesso e alternativas
“Atualmente, os dados e a informação fluem a velocidades vertiginosas. A disponibilidade de fontes sofreu radicais transformações tanto na superação de barreiras de distância como na capacidade de armazenamento, processamento e divulgação”, diz Miguel Pulido, pesquisador e ex-diretor executivo da ONG mexicana Fundar, em seu artigo.
“Os efeitos positivos da comunicação via Internet, não são só valiosos por seu alcance vertical (a audiência atingida pelo uso direto deste meio), mas também por seu impacto horizontal (a influência que têm sobre mídias convencionais e por essa razão um efeito literalmente multiplicador)”, afirma.
Pulido destaca o desafio de reter a atenção das pessoas levando em conta a enxurrada diária de informações na web. O ativista cita dados do Google de que, a cada 2 dias, se produz a mesma quantidade de informação online que havia sido gerada desde o surgimento da humanidade até o ano de 2003.
“Se nós, ativistas de direitos humanos quisermos comunicar neste contexto temos na tecnologia um aliado com muito potencial. Para tanto é preciso entender que o fenômeno implica mudanças não só na etapa final da comunicação (como enviamos as mensagens) mas também na forma como as construímos”, explica, reforçando que grande parte dos esforços de comunicação devem se concentrar na forma que mensagem será apresentada.
A tecnologia também é importante para ativistas em cenários onde o governo censura outras mídias. Este é o caso do Camboja, onde Sopheap Chak dirige a CCHR (Cambodian Center for Human Rights), e as liberdades de imprensa e de expressão são frequentemente negadas.
O preço acessível dos celulares locais facilita o crescimento da taxa de acesso à internet dos cambojanos (18% no total, um aumento de 17,5% em relação a 2009, segundo a CCHR), que usam cada vez mais mensagens de texto para se articularem politicamente e a cobertura 3G para acessar a web sem o uso de um computador.
Segundo Chak em seu artigo “Influência das novas tecnologias e comunicação no ativismo no Camboja”, a crescente penetração da internet e o desenvolvimento de novas tecnologias têm contribuído para o aumento da participação da juventude no ativismo social, político e econômico no local.
“No Camboja, o ativismo on-line como uma forma de engajamento é fundamental tendo em vista a falta de educação cívica e abusos generalizados de direitos humanos”, ressalta ela.