A Conectas Direitos Humanos manifesta seu repúdio a ação policial realizada no Morro de São Bento, na Baixada Santista, na noite da última terça-feira (5), que resultou na morte de Ryan da Silva Andrade Santos, de apenas 4 anos, e de Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos. Outras duas pessoas também foram atingidas pelos disparos.
Ryan da Silva é filho de Leonel Andrade Santos, uma das 84 vítimas das operações Escudo e Verão, também realizadas na Baixada Santista, entre julho de 2023 e abril de 2024. Leonel tinha uma deficiência na perna e fazia uso de muletas para se locomover, apesar disso, os PMs envolvidos na ocorrência, alegaram que ele estava armado e teria atirado.
Chamamos a atenção para o fato de que os policiais militares envolvidos na ação que interrompeu a vida de Ryan e Gregory não usavam câmeras corporais. O uso e a regulamentação de câmeras acopladas à farda de policiais são medidas que contribuem para a redução de abusos cometidos por agentes de segurança pública durante as abordagens. As câmeras têm eficácia comprovada na diminuição de mortes, tanto de civis como dos próprios agentes de segurança pública. Com o uso de câmera corporais em São Paulo, a letalidade policial caiu 62,7%, passando de 697 mortes em 2019 para 260 em 2022, de acordo com pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Também segundo o FBSP e a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância), durante os anos de 2021 e 2023, entre as 15.101 mortes violentas intencionais registradas em três anos, 2.427 foram causadas pela ação das forças estatais de segurança (16% do total), constituindo a segunda causa de mortes violentas de adolescentes.
Além da ineficiência que coloca em risco a vida de agentes e civis, a política de segurança pública aplicada no estado de São Paulo, caracterizada pelo crescimento e valorização da letalidade policial, evidencia uma atuação baseada no racismo e na violência institucional contra pessoas negras e periféricas.
A Conectas se solidariza com os familiares das vítimas e espera que haja uma investigação imparcial e independente por parte do Ministério Público do Estado de São Paulo, da corregedoria das polícias e principalmente das autoridades do Governo do Estado de SP. Além disso, seguiremos atuando para que as famílias sejam devidamente reparadas, recebendo, inclusive, suporte institucional para as necessidades advindas dessas violações.