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20/09/2018

“Não sabemos quem matou ou quem mandou matar Marielle”, diz viúva

Em evento paralelo à 39ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, organizações da sociedade civil discutiram a militarização da segurança pública e a execução de Marielle

A então candidata a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, em evento de sobre representatividade feminina nas eleições. Marielle foi executada no dia 14/03/2018.
 
Foto: Mídia NINJA A então candidata a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, em evento de sobre representatividade feminina nas eleições. Marielle foi executada no dia 14/03/2018. Foto: Mídia NINJA

“Hoje eu venho aqui denunciar o Estado brasileiro e sua incompetência em solucionar o crime político mais grave já cometido nos últimos anos no nosso país, o assassinato de minha companheira, vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes”. Dessa forma, Monica Benício, viúva de Marielle Franco, iniciou sua fala, denunciando a falta de respostas seis meses após o brutal assassinato da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes.

Monica participou do evento “Militarização da segurança pública: intervenção federal no Rio de Janeiro, execuções extrajudiciais e riscos para defensores de direitos humanos”, que reuniu representantes da sociedade civil brasileira para discutir o recrudescimento das políticas públicas de segurança e o impacto sobre a vida cotidiana, sobretudo dos moradores de favelas e periferias.

As falas chamaram a atenção para a inconstitucionalidade do decreto que autorizou a intervenção federal de cunho militar no Rio de Janeiro, e também sobre como a militarização não é a resposta mais adequada para solucionar a questão da segurança pública. Participaram do debate: Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas; Renata Neder, coordenadora de pesquisa e políticas da Anistia Internacional; Pablo Nunes, pesquisador do Observatório da Intervenção; Eliana Silva, diretora da Redes da Maré; e Monica Benício, viúva de Marielle Franco.

Leia abaixo trecho das falas:

“Esperamos que não haja nenhuma forma de renovação porque essa [intervenção federal] já tem se mostrado uma solução que na verdade está muito longe de ser uma solução aos desafios da segurança pública no Rio de Janeiro”.
Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas

“A chamada ‘guerra às drogas’, na prática, se traduz em operações de segurança e operações policiais altamente militarizadas, fortemente armadas, baseadas numa lógica de confronto que resultam em muitas horas de tiroteio em várias áreas da cidade, que resultam em inúmeras violações de direitos humanos, especialmente homicídios praticados pela polícia”.
Renata Neder, coordenadora de pesquisa e políticas da Anistia Internacional

“É um erro acreditar que as forças armadas podem dar solução a questões de segurança pública do Rio de Janeiro ou de qualquer outra cidade do Brasil. Militares são especialistas em defesa e estão preparados para guerras. A violência e a criminalidade urbana envolvem questões sociais, demandam diagnósticos rápidos de fenômenos que se alteram constantemente e requerem capacidade de gestão de diferentes entes públicos e experiência em inteligência, investigação e técnicas policiais”.
Pablo Nunes, pesquisador do Observatório da Intervenção

“É urgente nesse contexto que haja um maior controle sobre a circulação de armas no país e ainda uma revisão sobre a atual legislação sobre a política de drogas. Sem dúvida têm sido esses os problemas centrais que atingem em sua maioria os pobres, moradores de favelas e periferias, e jovens negros”
Eliana Silva, diretora da Redes da Maré

“A morte de Marielle é a expressão mais evidente da violência que pretende calar e intimidar todas aquelas pessoas que defendem os direitos humanos hoje no Brasil.
É estarrecedor que seis meses depois, exatos 190 dias, deste atentado político que tirou a sua vida, cometido diante de uma intervenção federal de caráter militar, esse crime siga impune. Não sabemos quem matou ou quem mandou matar Marielle.
A execução de Marielle não será instrumentalizada para o recrudescimento das barbáries políticas que a executaram. Não toleraremos nem mais um dia da falsa narrativa da guerra às drogas, do confronto armado que esconde o profundo comprometimento dos agentes do Estado na perpetuação de arranjos lucrativos do tráfico de drogas e de armas”.
Monica Benício, companheira de Marielle Franco

Assista ao debate, na íntegra:

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