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28/09/2020

Na ONU, lideranças indígenas acusam descaso no combate à Covid pelo governo federal

Em depoimento no Conselho de Direitos Humanos, representante do povo Yanomami afirmou que declarações do presidente servem como incentivo ao garimpo ilegal



Nesta sexta-feira (25), lideranças do povo yanomami denunciaram na ONU o descaso do governo do presidente Jair Bolsonaro pelo descaso no combate à Covid-19 entre as comunidades indígenas.

Em depoimento em vídeo exibido na 45ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Maurício Yekuana, da Hutukara Associação Yanomami, afirmou que declarações do presidente Jair Bolsonaro têm servido como incentivo ao garimpo ilegal e pediu ajuda da comunidade internacional aos índio brasileiros.

“O governo expressa falas que estimulam a exploração ilegal de ouro nas terras indígenas da Amazônia e que intensificam as ameaças contra nós”, afirmou Yekuana.

Dados do Ministério da Sáude apontam 709 casos de Covid-19 entre os cerca de 27 mil índios. Desses, 162 tiveram que ser transferidos para a Casa de Saúde Indígena, em Boa Vista e sete morreram vítimas da doença.

Porém, a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) realiza um levantamento independente diário, já que há subnotificação na amostragem oficial do governo, que não contabiliza indígenas em contexto urbano. Segundo a organização, os número são muito mais alarmantes: até este mês de setembro, havia 33.412 casos de infecção confirmados entre os indígenas, com um total de 825 mortes e 158 povos atingidos. 

Garimpo ilegal

Um estudo elaborado pelo ISA (Instituto Socioambiental) e pela UFMG ( Universidade Federal de Minas Gerais) apontou que a Terra Yanomami é a mais vulnerável ao novo Coronavírus entre as regiões indígenas da Amazônia. O principal motivo é a forte presença do garimpo ilegal na região responsável pela disseminação não só da Covid-19, mas também de outras doenças como a malária.

Segundo pesquisadores das instituições mencionadas anteriormente, 20 mil garimpeiros ilegais atuam na região. Em julho deste ano, quase quatro meses depois do início da pandemia no Brasil, o governo federal apresentou um plano para enfrentamento da Covid entre os índios. No entanto, o plano foi criticado por ser genérico e insuficiente.

Em junho, o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançou a campanha “Fora Garimpo, Fora Covid!”, denunciando a presença de mais de 20 mil garimpeiros em suas terras, e cobrando a retirada destes que são os maiores vetores de transmissão do novo coronavírus entre as populações indígenas — um déjàvu amargo das invasões das décadas de 70 e 80, quando 13% da população Yanomami foi levada à morte por doenças como malária e sarampo

A campanha, que é apoiada pela Conectas e uma coalizão de organizações, inclui petição às autoridades do Legislativo, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, Eduardo Fortunato (presidente do IBAMA), os ministros Fernando Azevedo (Defesa) e André Mendonça (Justiça) e o vice-presidente General Hamilton Mourão. Como forma de pressionar o governo brasileiro na retirada dos garimpeiros ilegais, a Conectas, que é membro do CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos), contribuiu para um pedido de cautelar junto à CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos). 

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