Em pronunciamento internacional, realizado nesta segunda-feira, 25, na 40ª sessão do Conselho de Direitos da ONU, em Genebra, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, reforçou que políticas voltadas à defesa da mulher serão pauta prioritária no governo do presidente Jair Bolsonaro. A ministra afirmou que não haverá tolerância ao “feminicídio e ao assédio sexual”.
No mesmo discurso, no entanto, Damares defendeu o “pleno exercício do direito à vida, desde a concepção”, reforçando a criminalização das mulheres que realizam a interrupção de sua gravidez.
“De uma forma geral, a ministra tenta mostrar preocupação com a integridade e a vida das mulheres, mas na prática faz discurso radicalmente no sentido oposto: a criminalização do aborto, além de violar o direito à vida e à saúde das mulheres, atinge desproporcionalmente as jovens, pobres e negras, que estão em condições de vulnerabilidade econômica e social”, aponta Juana Kweitel, diretora executiva da Conectas.
A fala se dá em momento no qual o Supremo Tribunal Federal julga a constitucionalidade dos artigos 124 e 125 do Código Penal, foco da ação que busca a descriminalização do aborto (ADPF 442).
Ao citar o compromisso do Brasil com tratados internacionais de direitos humanos, a ministra também ignora que o Estado brasileiro é signatário, desde os anos 90, de acordos globais que recomendam a prevenção de abortos inseguros, a revisão das leis punitivas e o pleno respeito pelo direito das mulheres à autonomia sexual e reprodutiva, como é o caso dos programas de ação da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), da IV Conferência Mundial de Mulheres (Pequim, 1995) e do Consenso de Montevidéu (Cepal, 2013).
Defensores de direitos humanos
Sem citar o assassinato da vereadora Marielle Franco, prestes a completar um ano e que ainda segue sem respostas, a ministra apontou que o “Brasil segue comprometido com a proteção dos corajosos defensores de direitos humanos”, anunciando a ampliação do programa governamental de proteção aos profissionais que se enquadram nesta categoria e que passará a incluir comunicadores sociais e ambientalistas.
O PPDDH (Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos), no entanto, permanece sem marco legal, com orçamento inadequado e enfrenta ainda problemas políticos nas relações com estados federados e órgãos de segurança pública para a implantação de medidas protetivas, conforme aponta a organização Terra de Direitos.
Os dados alarmantes também não apontam uma preocupação contundente do Estado neste sentido. De acordo com a Global Witness, o Brasil é o país mais perigoso para defensores do meio ambiente e dos direitos humanos. Em 2017, foram 57 assassinatos.
Compromisso com o Sistema Internacional dos Direitos Humanos
No pronunciamento de Damares, porém, o Estado brasileiro acenou ao sistema internacional de direitos humanos e pediu apoio a sua candidatura para reeleição no Conselho de Direitos Humanos. A ministra manteve um convite aberto a todos os relatores especiais a visitarem o Brasil para inspeções in loco e se comprometeu a submeter todos os relatórios atrasados aos Comitês de Tratados da ONU. “Estaremos atentos para cobrar que as visitas aconteçam”, completa Kweitel.