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04/07/2020

Na ONU, Brasil nega gravidade do Coronavírus

Em nota, Comissão Arns e Conectas expõem inconsistências do posicionamento da diplomacia brasileira

Ocupação de leitos de UTI já esteve acima de 80% em 13 capitais no Brasil Ocupação de leitos de UTI já esteve acima de 80% em 13 capitais no Brasil

A Conectas e a Comissão Arns publicaram ontem uma nota conjunta em resposta à manifestação do governo brasileiro na 44° sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. De acordo com a nota, nos dois momentos em que a diplomacia brasileira tomou a palavra, tentou-se apresentar um compromisso responsável do governo no combate à pandemia que não se verifica na realidade. 

As entidades traçam ainda pontos em que o Brasil não tem atendido de maneira devida aos grupos mais vulneráveis. Entre eles, as graves falhas no acesso ao auxílio emergencial, além da falta de políticas para garantir à população indígena e negra na segurança alimentar, financeira e de saúde.

Na ocasião, a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, externou sua preocupação a países que ainda refutam a gravidade da pandemia de Covid-19. 

Leia a íntegra da nota a seguir

A Comissão Arns e a Conectas, participantes, de forma remota, da 44ª sessāo do Conselho de Direitos Humanos da ONU, expressam sua perplexidade e discordância com as declarações do governo brasileiro em Genebra. Após manifestação da Alta Comissária de Direitos Humanos, Michelle Bachelet, externando sua preocupação com países que negam a gravidade do novo coronavírus ao citar Brasil, Burundi, Nicarágua, Tanzânia e Estados Unidos, eis que a delegação brasileira tomou a palavra duas vezes para defender o que hoje, a nosso juízo, é indefensável.

Dividido em três tópicos, o Brasil que emerge nas falas diplomáticas – uma delas em resposta às organizações da sociedade civil, entre elas, a Conectas e a Comissão Arns – exibe total desconexão com o Brasil real:

  1. O anúncio de ajuda emergencial do governo Bolsonaro para 50 milhões de pessoas ignora atrasos e inúmeras dificuldades de acesso para milhares de pessoas.
  2. A afirmação genérica de que medidas foram tomadas para sustentar a atividade econômica não reflete o fato de terem elas sido insuficientes para minimizar a recessão que se aprofunda e o desemprego na casa de 13 milhões de pessoas.
  3. A segurança alimentar e financeira aos mais vulneráveis, outro aspecto da propaganda brasileira, passa ao largo da situação real vivida por povos indígenas, pelas pessoas em situação de rua, por mulheres de baixa renda que chefiam famílias, pela população negra e periférica.

Quanto ao SUS, tão elogiado em Genebra nas vozes oficiais, este não é mérito de um governo que sequer se compromete em salvar vidas ou de corrigir o crônico subfinanciamento do sistema por mais de uma década. O SUS é conquista da Nação.

A diplomacia brasileira garantiu que o país vive uma “democracia vibrante”, porém, é preciso corrigir: uma democracia resiliente.

Não é pouco o que se exige dos brasileiros e das brasileiras hoje, confrontados a cada dia com a escalada de mortes pela Covid-19, o questionamento oficial irresponsável das orientações da OMS, e, sobretudo, a falta de horizontes para a maioria da população – em especial, e como sempre, os mais pobres e vulneráveis.

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