Apesar do isolamento voluntário ser uma das formas de prevenção contra o novo coronavírus, cerca de 70,8 milhões de pessoas no mundo não têm uma casa para se isolar. Esse é o número dos que se viram forçados a abandonar seus lares por conta de guerras, conflitos e perseguições — um recorde registrado pela Acnur (Agência da ONU para Refugiados) em quase 70 anos de existência.
Nem a pandemia parece conter esse número. À agência France Presse, um morador do Níger, ponto de partida para a Líbia, afirmou: “Da Gâmbia, Senegal, Mali… Eles estão sempre dispostos a tentar. Um migrante me disse: ‘Prefiro morrer de Coronavírus a viver miseravelmente'”.
No Brasil, a proximidade com a Venezuela faz do país um dos principais destinos para quem procura fugir da crise econômica e humanitária e, agora, sanitária. O governo estima que mais de 264 mil venezuelanos já tenham vindo para o país desde o início da crise migratória, em 2015. A Acnur aponta que o número de venezuelanos que deixaram suas casas seja de 4,7 milhões, o maior êxodo da história recente da América Latina.
Segundo a agência, só no Brasil, no começo do ano, 17 mil venezuelanos foram reconhecidos oficialmente como refugiados, somando um total de 37 mil.
Até o início de 2020, uma média de 500 venezuelanos entraram no país todos os dias, principalmente por Roraima. Mas o fluxo de refugiados no Brasil foi interrompido em 17 de março, quando o governo decretou o fechamento da fronteira, como medida de prevenção à Covid-19.
As baixas condições de moradia, dificuldades de acesso ao sistema de saúde, a barreira da língua e a falta de trabalho são alguns dos pontos que fazem com que os refugiados e outros migrantes sejam um dos grupos mais vulneráveis ao novo coronavírus.
Medidas como a construção da APC (Área de Proteção e Cuidados), em Boa Vista, promovida pelos governos estadual e municipal, são algumas das medidas pensadas para acolher esta população. Além disso, projetos como o Pana — iniciativa da Cáritas Brasileira, que conta com apoio da OIM (Organização Internacional para as Migrações) e do Escritório de População, Refugiados e Migração, do Departamento de Estado dos Estados Unidos — procura acolher em abrigos temporários cerca de 400 migrantes que perderam empregos e moradia por conta da pandemia.
Outro exemplo de iniciativa vem da Acnur, que, sem poder investir na qualificação profissional e parcerias com instituições locais, fortaleceu seu programa de apoio financeiro de emergência, em uma parceria com o IMDH (Instituto Migrações e Direitos Humanos), o qual beneficia famílias refugiadas da República Democrática do Congo, da Colômbia, de Cuba, da Síria, do Marrocos e, principalmente, da Venezuela.
É o caso da manicure venezuelana Francis, que considera o apoio de grande importância. “Sem esse dinheiro eu estaria na rua com meu companheiro e meu filho”, reconheceu ela, em entrevista à Acnur.