Empresas brasileiras listadas na bolsa de valores rejeitaram, em votação finalizada na última sexta-feira (23), a exigência de publicação de relatórios socioambientais prevista nas regras atualizadas do chamado Novo Mercado – um segmento especial de listagem para empresas de capital aberto que se comprometem a adotar as práticas mais avançadas de governança corporativa.
Os segmentos especiais de listagem são categorias criadas pela bolsa de valores para hierarquizar, aglutinar e reconhecer as empresas a partir de diferentes graus de transparência e melhores práticas de gestão. Atualmente, o Novo Mercado é considerado o segmento mais exigente do país por refletir padrões reconhecidos internacionalmente, superando, inclusive, as exigências da legislação brasileira.
O resultado da votação, anunciado pela B3 (empresa resultante da fusão da BM&F Bovespa com a Cetip – Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos) na tarde desta segunda-feira (26), expôs, no entanto, a relutância das empresas brasileiras em aderir aos padrões mais elevados de transparência, governança e responsabilidade socioambiental.
No segmento do Novo Mercado, 50 empresas votaram contra a exigência dos relatórios, 47 foram favoráveis e 32 se abstiveram. Entre as empresas listadas no Nível 2, que funciona como uma espécie de sub-segmento dentro do Novo Mercado e possui exigências um pouco mais brandas, foram 12 votos contra, 5 a favor e 2 abstenções.
“Vê-se que a maior parte das companhias brasileiras ainda não possui visão de longo prazo e atualizada sobre a sustentabilidade. É lamentável que empresas listadas nos segmentos mais avançados da bolsa de valores não enxerguem a transparência como essencial à superação da crise e para o desenvolvimento de um mercado dinâmico e competitivo, além de comprometido com os direitos humanos e o meio ambiente”, afirma Caio Borges, coordenador do programa de Empresas e Direitos Humanos da Conectas.
A consulta fazia parte do processo de atualização das regras dos segmentos especiais de listagem, iniciado em março de 2016. As companhias do Novo Mercado e do Nível 2 foram convidadas a manifestar seu voto sobre um novo regulamento-base e também sobre quatro regras específicas, entre as quais estava a divulgação de relatórios socioambientais.
Pela proposta da B3, na elaboração dos relatórios socioambientais as empresas teriam de seguir os padrões do GRI (Global Reporting Initiative), que é atualmente a referência mais utilizada para a divulgação de relatórios de sustentabilidade em todo o mundo.
A lista de como votou cada empresa pode ser encontrada aqui.
O resultado final divulgado pela B3 pode ser acessado aqui.
Para Borges, o resultado da votação “representa uma oportunidade perdida de aproximar o mercado de capitais brasileiro das melhores práticas internacionais”. “Na União Europeia, por exemplo, há uma diretiva que obriga empresas com mais de 500 funcionários a publicar uma série de informações não financeiras com o objetivo de aumentar a transparência sobre aspectos socioambientais”, completa.