Segundo Priscila Neri, gerente de programas da Witness, e Alexandre Morgado, membro do GAPP (Grupo de Apoio ao Protesto Popular), registros em vídeo de violações de direitos humanos são cada vez mais fundamentais na hora de responsabilizar autores de abusos.
Neri e Morgado participaram do painel “As práticas das ruas”, realizado na quinta-feira (28/5) no XIV Colóquio Internacional de Direitos Humanos, e moderado por Josefina Cicconetti, conectora para América Latina no programa Sul-Sul da Conectas.
“Mais vídeos significam mais direitos, porque eles podem refutar as mentiras das autoridades”, ressaltou Neri. Para exemplificar, a representante da Witness apresentou casos reais em que vídeos foram usados para defender ativistas ou acusar autoridades que cometeram crimes. Por conta de um deles, usado pelo advogado de defesa, um ativista carioca foi inocentado de falsa acusação de depredação de patrimônio durante protesto em 2013.
Neri ressaltou que existem sete passos essenciais a serem seguidos antes de filmar violações: objetivo, segurança, planejamento, prática, equipamento, organização de arquivos e precauções com a internet. “Em suma, é preciso saber porque se está filmando, quais são os riscos, quais imagens ilustram melhor a violação, ter cuidados com qualidade de áudio e imagem, ter baterias e cartões extras, armazenar os arquivos em local seguro e avaliar se a web é o melhor canal para divulgar o vídeo”, concluiu.
Morgado, por sua vez, ressaltou a importância de se criar uma rede de contatos entre ativistas durante os protestos para que haja a garantia de que o material chegue a público e seja utilizado para a defesa das vítimas presas ou feridas. Neste sentido, o ativista do GAPP citou exemplos em que registros audiovisuais de violência policial contra manifestantes em junho de 2013 foram compartilhados entre participantes do protesto até ser publicado no Youtube.
“A polícia precisa de meios para que as manifestações tenham tempo curto de duração, e o meio encontrado é a violência deliberada contra os civis”, denunciou Morgado. Ele e outros membros do GAPP chegaram a ser feridos ou detidos, o que para ele é um exemplo de que “saber se defender não é o bastante” quando se trata de enfrentar a repressão da polícia durante os protestos. “Por isso, é importante sempre ter um celular a mão para filmar esses abusos”, concluiu.
Esse texto foi produzido por Agnes Sofia e faz parte da cobertura colaborativa do XIV Colóquio Internacional de Direitos Humanos.