Um grito de socorro contra um velho pesadelo, agora ainda mais mortífero. É assim que as lideranças dos povos Yanomami e Ye’kwana definem a campanha #ForaGarimpoForaCovid, lançada nesta terça-feira 2 de junho. A iniciativa, encampada pelo Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana, demanda do governo federal a desintrusão urgente dos mais de 20 mil garimpeiros da Terra Indígena Yanomami (TIY), localizada nos estados de Roraima e Amazonas. Saiba mais e participe em www.foragarimpoforacovid.org.
A história recente dos Yanomami é marcada pela disseminação de doenças levadas por garimpeiros e outros invasores. Nas décadas de 70 e 80, a abertura de estradas e corridas por ouro chegaram a causar a morte de 13% da população Yanomami por doenças como malária e sarampo. Muitos velhos ainda guardam a dor dessa memória. Agora, os milhares de garimpeiros dentro do território indígena são vetores de transmissão do novo coronavírus, e podem promover a contaminação em massa de uma população já bastante vulnerável.
“Estamos acompanhando a doença Covid-19 na nossa terra e muito tristes com as primeiras mortes dos Yanomami. Nossos xamãs estão trabalhando sem parar contra a xawara”, relata Dario Kopenawa Yanomami, jovem liderança de seu povo e vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami. “Xawara” é a palavra yanomami para as epidemias trazidas pelos brancos. “Vamos lutar e resistir. Para isso, precisamos do apoio do povo brasileiro e das pessoas do mundo todo”, completa Dario, filho de Davi Kopenawa, um dos mais conhecidos xamãs de toda a Amazônia.
A campanha #ForaGarimpoForaCovid é uma iniciativa do Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana por meio das organizações Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Wanasseduume Ye’kwana (SEDUUME), Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (TANER) e Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA).
A campanha inclui petição às autoridades do Legislativo, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, Eduardo Fortunato (presidente do IBAMA), os ministros Fernando Azevedo (Defesa) e André Mendonça (Justiça) e o vice-presidente General Hamilton Mourão para que livrem os Yanomami da pandemia disseminada pelos garimpeiros. A campanha pede que todas as autoridades mobilizem esforços para a desintrusão urgente da Terra Indígena Yanomami, sob risco de entrarem para a História como responsáveis por milhares de mortes e o genocídio dos Yanomami.
A #ForaGarimpoForaCovid leva também o recado das lideranças da Terra Indígena Yanomami para a sociedade brasileira por meio de um filme criado pela agência Wieden+ Kennedy, com imagens históricas das aldeias e indígenas impactados por outras epidemias nos anos 70, 80 e 90.
Dário Kopenawa está em Boa Vista (RR), longe de sua comunidade, para garantir a defesa de seu povo e do território. Da aldeia, seu pai Davi Kopenawa e outros xamãs estão zelando por sua saúde e combatendo a xawara por meio do xamanismo. Dário contraiu a Covid-19, mas conseguiu se recuperar. Agora, restabelecido, vai levar a voz e o pedido de socorro dos Yanomami para o mundo. Para aumentar o diálogo direto com as autoridades e formadores de opinião, a jovem liderança yanomami abriu seu perfil no Twitter, e deve usá-lo para informar seus seguidores sobre o avanço da pandemia na Terra Yanomami e mobilizar apoiadores para a campanha.
A campanha #ForaGarimpoForaCovid conta com o apoio da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), ISA (Instituto Socioambiental), Survival International, Greenpeace Brasil, Conectas Direitos Humanos, Anistia Internacional, RCA (Rede de Cooperação Amazônica), Instituto Igarapé, Rainforest Foundation US e Rainforest Foundation Norway.