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24/09/2015

Justiça para Ayotzinapa

Em entrevista para a Revista Sur 21, ativistas dizem que é dever do Estado mexicano devolver seus companheiros com vida

Em entrevista para a Revista Sur 21, ativistas dizem que é dever do Estado mexicano devolver seus companheiros com vida Em entrevista para a Revista Sur 21, ativistas dizem que é dever do Estado mexicano devolver seus companheiros com vida

“Eles têm de nos entregar nossos companheiros com vida!”. A exclamação é de Gerardo Torres Pérez, de 22 anos. Ele é colega dos 43 estudantes de Ayotzinapa que estão desaparecidos desde setembro de 2014, quando os ônibus em que estavam foi atacado por policiais. Os alunos rumavam da cidade de Iguala para Chilpancingo durante campanha de arrecadação de fundos para a escola rural Raúl Isidro Burgos – cujo modelo de ensino é conhecido por contribuir na formação de líderes comunitários.

 

 

Em entrevista para a Revista Sur 21, Gerardo conta que apesar de ter conseguido escapar do ataque, seu irmão mais novo que estava com o grupo foi levado. “Nós, como estudantes de Ayotzinapa, continuamos dizendo que eles têm de nos entregar nossos companheiros com vida. Foi o Estado quem os arrancou de nós, quem se encarregou desse desaparecimento e por isso continuamos nessa mesma postura”, enfatizou.

 

 

O episódio, que também deixou outros 6 jovens mortos, completa um ano nesta semana. Diversos atos e manifestações estão sendo realizados para pressionar o governo do México a reabrir o caso e encabeçar uma investigação séria que possa esclarecer o que ocorreu. As ações também mostram indignação pela histórica onda de violência no país que já resultou no desaparecimento forçado de, pelos menos, 25 mil pessoas desde 2006, segundo informe anual da Secretaria de Governo.

 

“A atual realidade de desaparecimentos forçados no México é tão ou mais grave do que vimos em períodos de exceção e ditadura nos países latino-americanos. É preciso dar um basta nesta situação”, ressaltou Jessica Carvalho Morris, diretora-Executiva da Conectas, que participou da abertura da mostra fotográfica, realizada no último 12 de setembro na escola rural em solidariedade às famílias das vítimas.

 

 

O principal ato acontece na Praça da Constituição – o Zócalo – na Cidade do México, no dia 26. No entanto, entre sexta e domingo, as mobilizações se estendem por estados vizinhos e países como Peru, Suíça, Bélgica e Brasil, onde haverá passeatas nas capitais do Rio de Janeiro e São Paulo. Além dos protestos, outras ações no México estão previstas para relembrar o desaparecimento dos estudantes. Nesta quarta-feira (23/9), pais e mães das vítimas iniciam uma greve de fome de 43 horas e, no domingo (27/9), depositam coroas de flores nos túmulos dos seis estudantes que foram mortos durante a violenta interceptação do dia 26 de setembro de 2014. Um representante da Conectas está em missão de acompanhamento das manifestações no país.

 

 

A CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) estará em missão no México entre 28 setembro e 2 de outubro para uma “observação sobre a situação dos direitos humanos no país, com particular enfase na execuções extrajudiciais, desaparições forçadas e tortura”, segundo seu comunicado de imprensa. Na agenda do órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos) está prevista uma visita à escola rural que os jovens frequentavam, nos dias 29 e 30/9

 

 

Novos questionamentos

 

 

 

 

A investigação do crime levada a cabo pela PGR (Procuradoria Geral da República) apressou-se em concluir que os estudantes foram incinerados em um aterro sanitário em Cocula, próximo a Iguala, cidade onde ocorreu o ataque. No entanto, com o apoio de organizações locais e internacionais de direitos humanos, novas histórias sobre o desaparecimento dos 43 estudantes estão vindo à tona.

 

 

A ONG Tlachinollan foi uma das principais articuladoras para que uma averiguação paralela fosse conduzida pelo GIEI (Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes), com nomes indicados pela CIDH. Após seis meses de novas investigações sobre o caso, os peritos questionam as conclusões do governo mexicano.

 

 

Em resposta ao relatório do grupo, apresentado publicamente no dia 6 de setembro, o presidente Henrique Peña Nieto aceitou conversar com os representantes dos familiares das vítimas nesta próxima quinta-feira (24/9). O governante terá que explicar as discrepâncias entre a versão oficial da PGR e as conclusões dos peritos. O informe dos especialistas aponta que, ao contrário do que se alegava, não há indícios de que os jovens foram cremados em um aterro sanitário na vizinha Cocula. Segundo eles, para que a versão oficial se sustentasse o fogo teria que ter ardido por mais de 30 horas, produzindo fumaça que alcançaria 300 metros, algo impossível de ser ignorado e não reportado.

 

 

 

“A partir de agora, o Estado deve comprometer-se a implementar as recomendações do grupo de especialistas, especialmente no que diz respeito à reestruturação da investigação com foco central na busca pelos jovens desaparecidos”, afirmou María Luisa Aguilar, coordenadora da área internacional do Tlachinollan.

 

 

María e Gerardo estiveram em São Paulo, em maio de 2015, participando do XIV Colóquio Internacional de Direitos Humanos, promovido pela Conectas com a presença de 130 ativistas de 40 países. Durante o encontro, ambos conversaram com a Revista Sur sobre o caso de Ayotzinapa, a situação geral dos desaparecidos no México e a ligação entre as forças estatais e o crime organizado.

 

 

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