Juntando forças

Para especialistas, ONGs de direitos humanos e movimentos sociais devem trabalhar em conjunto

For Chris Grove, the global human rights movement should join social movements in the struggle for social justice

Organizações nacionais e internacionais de direitos humanos em todo o mundo, especialmente em países do Sul Global, devem atuar em parceria com movimentos sociais. Desta forma, a linguagem de direitos humanos poderá com mais eficácia promover mudança social.

Para especialistas reunidos no lançamento global da edição 20 da Revista Sur, realizado em Nova York, em outubro de 2014, isto ocorre porque mesmo com a expansão atual do movimento global de direitos humanos, as organizações deste segmento podem se beneficiar do poder de mobilização de movimentos sociais.

O tema é tratado em diversos artigos na edição 20 da Revista Sur. Esta publicação disponível online desde o final de 2014 traz textos que analisam, em duas seções, a eficácia da linguagem de direitos humanos em promover mudanças sociais e a representatividade das vozes de ONGs no movimento de direitos humanos.

Durante seu lançamento em Nova York, Louis Bickford, responsável pelo Programa Global de Direitos Humanos da Fundação Ford, ressaltou o desafio de juntar forças, conciliando a capacidade de articulação dos movimentos sociais ao profissionalismo e influência das ONGs perante governos e organizações internacionais (por meio de estratégias de advocacy, litígio, etc.).

“O tema central discutido foi a questão de como conectar os movimentos sociais e os instrumentos que eles trazem, mobilizando pessoas, levando elas às ruas, articulando moralmente toda a raiva e indignação, com as organizações de direitos humanos, que são, na maioria das vezes, muito profissionais, com advogados, jornalistas etc. Muitas vezes a questão é como fazer o link”, explica Bickford, em entrevista concedida para a SUR 20.

Assista ao vídeo de Louis Bickford no lançamento da SUR 20:

Outros participantes do lançamento corroboraram com essa ideia. Para Chris Grove, Diretor do Secretariado da Rede Internacional para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Rede-DESC), é necessário ir além da normativa internacional de direitos humanos, e “reivindicar a linguagem de direitos humanos como uma linguagem moral e política, que questione o sistema de desigualdade, e as relações de poder sob a qual vivemos”.

Segundo Grove, em seu artigo para a SUR 20, o que une as ONGs que integram o movimento global de direitos humanos a outros movimentos sociais é a luta comum por justiça social.

Assista ao vídeo de Chris Grove no lançamento da SUR 20:

No entanto, para alguns especialistas, há desafios a serem superados para que ONGs possam de fato unir esforços com movimentos sociais.

Para Mary Kaldor, professora de Governança Global na London School of Economics, as organizações não governamentais sofrem da mesma crise de representatividade que atinge o sistema político em todo o mundo.

Em seu artigo para a edição 20 da SUR, Kaldor aponta que as ONGs podem ser vistas como “movimentos sociais ‘domesticados’”. Para ela, é necessário compreender que “ONGs não são a mesma coisa que sociedade civil”, já que nesta última a “participação” de diferentes atores é parte essencial de seu DNA. Diante disso, a pesquisadora explica que o papel das organizações deve ser principalmente de mediadoras. “Há um grande número de ONGs diferentes, mas eu realmente acho que algumas têm, de fato, o papel de facilitadoras”, conclui.

Para Thiago Amparo, editor executivo da Revista, o papel das ONGs e sua representatividade é um importante debate que deve ser observado de perto por defensores e ativistas de direitos humanos. “As organizações não governamentais devem estar atentas a este debate. Este é um dos temas centrais na atual conjuntura e um dos que nos motivou a realizar esta edição especial da Revista Sur”, conclui.

Assista ao vídeo de Thiago Amparo no lançamento da SUR 20:

Leia aqui a íntegra da Revista SUR 20.