A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) não deveria aprovar a adesão do Brasil até que o país apresente mudanças legislativas, políticas e boas práticas de proteção ambiental e de direitos humanos alinhadas aos padrões e valores da organização. Esta é a conclusão de uma pesquisa realizada pela OECD Watch, Conectas Direitos Humanos e FIDH (Federação Internacional de Direitos Humanos), que mostra como o país está deficitário em temas como o combate às mudanças climáticas e ao desmatamento; a proteção ambiental, dos povos indígenas e de defensores; e direitos trabalhistas.
Ao analisar esses pontos críticos, as organizações da sociedade civil demonstraram como falhas de governança estão colocando em risco o estado de direito, os direitos humanos e o meio ambiente no Brasil. Os problemas identificados estão relacionados a uma legislação inadequada e ineficaz, baixo nível de financiamento, falhas na aplicação das políticas e na responsabilização, falta de transparência e participação, além de ataques à oposição e grupos da sociedade civil.
Chamada “Lacunas de governança socioambiental no Brasil: utilizando o o processo de acessão à OCDE para fortalecer os direitos humanos e a proteção ambiental“, a pesquisa, lançada nesta terça-feira (22) em um seminário online destaca as principais causas dessas lacunas de governança e propõe reformas domésticas que o Brasil deve empreender. As organizações pedem que OCDE exija do Brasil a implementação de reformas como pré-condição para a adesão do país ao órgão.
A divulgação da pesquisa acontece em um momento crucial, prévio às reuniões do Conselho Ministerial da OCDE do final de março e início de junho que discutirão os princípios e “roteiros” que devem orientar a adesão do Brasil e de outros candidatos. Também entre 20 e 31 de março, o Comitê de Política Ambiental da OCDE se reunirá para discutir ações de combate às mudanças climáticas.
“A OCDE pode exercer uma forte influência sobre o Brasil durante o processo de acessão e deve usar essa influência para alcançar essas reformas, exigindo que o país tome medidas como condição para seu ingresso”, disse Marian G. Ingrams, coordenadora do OECD Watch. “A OCDE também deve garantir que o processo de adesão do Brasil e de outros países seja transparente e permita a participação da sociedade civil, especialmente dos estados candidatos.”
“O histórico negativo do atual governo brasileiro em lidar com algumas das crises mais prementes do mundo – de mudanças climáticas a pandemias globais – mostrou sua falta de compromisso com a proteção do meio ambiente, dos direitos humanos e do estado de direito”, disse Julia Mello Neiva, da Conectas. “No Brasil, as populações mais afetadas são as mais vulneráveis: povos indígenas, comunidades rurais e quilombolas, afrodescendentes, defensores de direitos humanos, trabalhadores pobres e migrantes, mulheres e crianças. Acreditamos que o governo muitas vezes demonstrou complacência, ou mesmo cumplicidade, em permitir que a governança social e ambiental se deteriorasse no Brasil.”
“Esta é a última década que resta para mudar significativamente o curso das mudanças climáticas – e o Brasil terá um papel determinante nisso. A OCDE não pode tratar a adesão do Brasil como fez em processos anteriores, que se concentraram muito na remoção de barreiras ao comércio exterior e ao investimento”, disse Maddalena Neglia, diretora da FIDH. “Pedimos aos governos membros da OCDE que levem o processo de adesão do Brasil – e os próprios valores da OCDE – a sério e concedam a adesão apenas se o Brasil merecer.”
O Brasil vem tentando há mais de uma década alinhar-se aos instrumentos da OCDE. A acessão poderia trazer ao Brasil vantagens econômicas e políticas, incluindo melhor posição entre financiadores e maior acesso ao comércio e investimento estrangeiro direto.
A publicação elaborada pela OECD Watch, Conectas e FIDH foi lançada durante um seminário nesta terça-feira (22). Após palestra de Fernanda Hopenhaym, integrante do Grupo de Trabalho da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, a Conectas modera um painel com a participação de Sucupira Pataxó, representante de um grupo indígena impactado pelo desastre de Brumadinho; Jandyra Uehara, secretária Nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT (Central única dos Trabalhadores); Suely Araújo, especialista sênior em Políticas Públicas do Observatório do Clima; Eric Pedersen, diretor de investimentos da Nordea; e Daniela da Costa-Bulthuis, investidora da Robeco. É possível acessar também todos os documentos que analisam