(Atualizado em 09/02/2021)
Na quinta-feira (21) foi publicada a 10ª edição do Boletim Direitos na Pandemia, uma iniciativa do Cepedisa (Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da Universidade de São Paulo), em parceria com a Conectas Direitos Humanos. A pesquisa aponta o empenho da atuação da União em prol da retomada da atividade econômica o mais rápido possível e a qualquer custo.
Os dados do estudo foram produzidos ao longo do ano de 2020, quando foram observadas 3.049 normas federais e 4.427 normas estaduais relativas à Covid-19 com o intuito de avaliar o seu impacto sobre os direitos humanos.
“As mais de 200 mil mortes, em sua maioria evitáveis por meio de investimentos adequados, constituem uma violação sem precedentes do direito à vida e do direito à saúde dos brasileiros, entre outros direitos”, aponta Deisy Ventura, pesquisadora do Cepedisa e professora da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O levantamento desenha uma linha do tempo com três eixos em ordem cronológica: atos normativos da União, incluindo a edição de normas por autoridades e órgãos federais e vetos presidenciais; atos de obstrução às respostas dos governos estaduais e municipais à pandemia; e propaganda contra a saúde pública.
No estudo os pesquisadores definem este último item como o discurso político que mobiliza argumentos econômicos, ideológicos e morais, além de notícias falsas e informações técnicas sem comprovação científica, com o propósito de desacreditar as autoridades sanitárias, enfraquecer a adesão popular a recomendações de saúde baseadas em evidências científicas, e promover o ativismo político contra as medidas de saúde pública necessárias para conter o avanço da Covid-19.
A publicação mapeia ainda pronunciamentos polêmicos de Bolsonaro que enquanto aqueceram os debates em redes sociais abafaram a repercussão de medidas oficiais que enfraqueciam políticas públicas de saúde voltadas à proteção e ao combate à pandemia.
Trata-se de um mapeamento não exaustivo. Os eventos foram selecionados em coleta junto à base de dados do projeto Direitos na Pandemia, jurisprudência dos tribunais, documentos, discursos oficiais e busca em plataformas da Internet.
Entre as ações adotadas pelo governo apontadas pelo estudo como responsáveis pela propagação do vírus na população estão sucessivos decretos federais que buscaram ampliar ao máximo a definição de atividades essenciais e que deveriam permanecer em funcionamento durante o lockdown.
Entre as mais polêmicas estão as atividades religiosas de qualquer natureza, os salões de beleza e barbearias, e academias de esporte de todas as modalidades.
No entanto, decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que estados e municípios também poderiam adotar normas sobre a matéria. Ao analisar dezenas de normas estaduais, os pesquisadores constataram que menos da metade dos governos aderiu às ampliações indicadas pelo decreto federal.
Outras ações adotadas pelo governo Bolsonaro que enfraqueceram a resposta eficaz em termos de saúde pública foram: isenção de agentes públicos de serem responsabilizados, civil e administrativamente, por atos e omissões no enfrentamento da pandemia; veto de recebimento do auxílio emergencial de 600 reais mensais a categorias como pescadores, taxistas, motoristas de aplicativo, etc.; não-repasse de mais de 8 milhões de reais destinados ao combate à pandemia a estados e municípios; incitação a invasão de hospitais de campanha; atraso e boicote no fornecimento de dados sobre casos e óbitos por Covid-19; veto à obrigação de máscaras em comércios, indústrias e templos religiosos; e veto a medidas de proteção à comunidades indígenas.
O estudo ainda aponta a recusa do governo federal em atender a proposta da Pfizer para receber o primeiro lote de vacinas em 20 de dezembro de 2020 e a rejeição de pelo menos 20 mil kits de testes PCR da empresa LG International.