por Pâmela Ellen*
Utilizando os direitos humanos como uma ferramenta para tratar dos problemas que acontecem no Complexo do Alemão e encontrar as soluções, o ativista do Coletivo Papo Reto, Raull Santiago conta que a única política pública que chega para a comunidade é a polícia. “Governantes dialogam com a gente através de policiais com fuzis.”
Em palestra sobre o contexto global e seus impactos nos direitos humanos, realizada nesta segunda-feira, 2, durante o 15º Colóquio Internacional de Direitos Humanos, Santiago explica como é a atuação do coletivo que participa, fala sobre a falta de incentivos sociais do governo para as comunidades periféricas e como as redes sociais são importantes na divulgação das violações sofridas pelos moradores do Complexo.
O Papo Reto é um coletivo de mídia independente que acompanha a ação da polícia dentro do Complexo do Alemão, um conjunto de 13 favelas no Norte da cidade do Rio, denunciando por meio das redes sociais, os abusos cometidos tanto por policiais, como pela falta de políticas públicas no local.
Segundo Santiago, o Complexo do Alemão é visto como um lugar ruim. “A polícia simplesmente entra no nosso território. Não se discute a estrutura de corrupção que coloca uma arma na mão do jovem, nem a corrupção que leva drogas para esses espaços. Daí a favela fica com a imagem ruim, de um lugar onde só há armas e drogas. Mas as armas que os jovens usam nem existem no Brasil”.
Mantendo-se informado sobre o que ocorre em outros países, em que faz uma comparação entre as diversas narrativas e contextos globais, Santiago considera que a guerra antidrogas foi trazida dos Estados Unidos para a realidade do Brasil, sendo utilizada como recorte racial e social. “O próprio nome ‘guerra’ já mostra o que ela é, contra negros e pobres. É uma forma de exploração por meio da aquisição de armas, as chamadas ‘tecnologias de segurança’”, afirma.
As redes sociais se tornaram importantes para o coletivo, pois os vídeos divulgados pelo Papo Reto na internet, além de expor a realidade diária do Complexo do Alemão, podem ser utilizados como provas jurídicas em casos de violações de direitos por policiais.
Sobre o Colóquio
Entre os dias 2 e 6 de outubro, 80 ativistas de direitos humanos de 31 países estarão reunidos em São Paulo para o 15o Colóquio Internacional de Direitos Humanos. Com uma programação intensa, o objetivo do evento é debater o tema “Direitos Humanos: crise ou transição?”, compartilhar experiências e propor soluções para enfrentar quadros de retrocessos em escala local, regional e global.
Neste ano, a Conectas organiza o encontro junto com Forum Asia (Tailândia), o Centro de Direitos Humanos da Universidade de Pretória (África do Sul) e o Dejusticia (Colômbia).
*Pâmela Ellen é jornalista voluntária do grupo de cobertura do 15o Colóquio Internacional de Direitos Humanos