A juventude ativista pelo clima do Brasil quer ser ouvida na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática) que ocorre nas primeiras semanas de novembro, em Glasgow, na Escócia. E uma das vozes do evento global é a ativista climática Paloma Costa, da ONG Engajamundo.
A organização de Costa foi criada em 2012, após a Conferência Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável). Liderada por jovens, a ONG atua na pauta das mudanças climáticas, com a perspectiva de combater as injustiças climáticas, promover a equidade de gênero e propor soluções sustentáveis para as cidades. Na COP26, o Engajamundo terá uma delegação composta por 13 pessoas, sendo 11 mulheres, a maioria negras e indígenas.
Costa ressalta que este é um dos eventos mundiais sobre clima mais importantes das últimas décadas. Para ela, trata-se, talvez, da última chance dos tomadores de decisão para transformar discursos em ações concretas para frear a destruição do planeta.
Sua visão está alinhada a de figuras internacionais preocupadas com o cenário climático e de direitos humanos. A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, por exemplo, afirmou nesta semana que é preciso colocar em prática os programas climáticos e que “só a ação urgente pode reduzir ou evitar desastres com um enorme e letal impacto em nós, nossos filhos e nossos netos”.
A ativista brasileira acredita que a postura do governo brasileiro diante do tema é prejudicial e coloca o país em um local de exclusão, ainda que o Brasil tenha potencial para liderar as estratégias para a construção da justiça climática. Nesse sentido, atores brasileiros fora do governo, como representantes da sociedade civil, assumem o protagonismo diante da comunidade internacional.
Nascida em Brasília, Costa, ao lado de outras seis ativistas do mundo, foi nomeada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, em julho de 2020, para compor o Grupo Consultivo da Juventude sobre Mudança Climática. Em entrevista para a Conectas às vésperas da COP26, ela conta como será a atuação dos ativistas brasileiros no evento e quais são suas expectativas.
A juventude brasileira terá diferentes agendas. Vamos incidir bastante sobre a pauta de justiça climática e levar a visão de que justiça racial, justiça étnica e afins são fundamentais para construir o que chamamos de justiça climática. Vamos atuar também muito forte na agenda de educação climática e defender que ela faça parte de um currículo de ensino nacional. Outra incidência será na pauta de desmatamento zero como uma estratégia fundamental para o Brasil liderar a ação pelo clima. Por fim, teremos uma agenda de ambição contra o desmatamento, a maior fonte de emissão de carbono.
É uma mensagem simples: algo precisa ser feito pelos tomadores de decisão. Se eles não estiverem comprometidos e não tomarem a responsabilidade para si, pode deixar para nós [ativistas pelo clima]. Estamos prontos para assumir essa responsabilidade.
Essa conferência está sendo muito esperada pela comunidade global, já que existe a grande esperança de que vamos chegar a um acordo, especialmente sobre os artigos 4 e 6 do Acordo de Paris [que dizem respeito aos compromissos de mitigação dos países, as NDCs, e ao mercado global de carbono]. Soma-se a isso o recente relatório do IPCC que demonstra que temos muito menos tempo do que imaginamos. Existe uma grande pressão da comunidade global, ainda mais nesse período de pandemia, que mostrou ao mundo a necessidade de agir urgente para evitar outros colapsos e situações tristes como esse momento pandêmico. Sem ação urgente, fica difícil a humanidade ter um futuro.
Acredito e espero. Os discursos devem se tornar uma estratégia da comunidade global, dos governos, das nações [na defesa do clima]. Se isso não acontecer, fica difícil termos um futuro como humanidade, um futuro do planeta. Se não restaurar, reflorestar, não restará nada, nem nós.
Por conta do último posicionamento do Brasil, que apresentou uma Pedalada Climática [para burlar as metas e compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris] e por conta da política ecocida desse desgoverno ambiental, duvido que teremos um espaço de destaque. Devemos ter, na verdade, um espaço de exclusão, se não mudarmos nossa atitude. Nossa estratégia precisa ser realmente um plano ambicioso.O Brasil tem potencial para liderar as discussões sobre o clima, mas, infelizmente, escolhemos ir no rumo contrário.