Em discurso na ONU na manhã desta segunda-feira (27), o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, afirmou que o governo brasileiro está “profundamente comprometido” com tratados internacionais e com a Revisão Periódica Universal, mecanismo das Nações Unidas que avalia as políticas de direitos humanos dos países.
O pronunciamento do ministro foi durante a 52ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça, que segue até o início de abril.
De acordo com ele, o novo governo “reavaliou as 306 recomendações do último ciclo da Revisão Periódica Universal, a fim de que a nova política nacional de direitos humanos esteja refletida em nossas posturas no plano internacional”. Em 2022, ainda no governo Bolsonaro, o Brasil passou pelo quarto ciclo da RPU, que foi marcado por cobranças de proteção aos povos indígenas e defensores de direitos humanos.
Para Camila Asano, diretora-executiva da Conectas, “o discurso do ministro marca o comprometimento que a sociedade civil brasileira quer das autoridades diante da comunidade internacional. O pronunciamento reforça a importância do Brasil seguir acordos internacionais, com especial atenção à RPU. Cabe, agora, acompanharmos de perto as ações para o cumprimento desta extensa agenda de direitos”.
O ministro utilizou ainda seu primeiro pronunciamento no Conselho da ONU para dizer que o Brasil não está medindo esforços para restaurar a dignidade do povo yanomami e garantir-lhe o “efetivo domínio sobre suas terras”. Citando o Ministério dos Povos Indígenas, ele disse que nenhuma decisão sobre os direitos dos indígenas será tomada sem a participação desta população. O mesmo, ainda segundo ele, aplica-se no campo dos direitos das pessoas negras e das mulheres.
Almeida abordou diversos temas da sua pasta e disse ainda que o governo está traçando uma nova política de direitos humanos com ampla participação popular. Em outro momento, disse que as políticas públicas no Brasil serão pautadas pela ciência e que “as mulheres terão seus direitos sexuais e reprodutivos restabelecidos no Brasil e o SUS voltará a acolher de maneira adequada, e humana, as mulheres vítimas de violência”. Os defensores de direitos humanos, jornalistas e acadêmicos atacados pela gestão Bolsonaro também foram lembrados no pronunciamento. De acordo com o ministro, o Brasil irá avançar em um marco legal para o programa de proteção destes grupos.
Sobre combate ao trabalho escravo, o ministro ressaltou que o Brasil dará “renovada atenção aos recortes de gênero e raça, ao trabalho escravo doméstico, à reinserção das vítimas, à relação com o tráfico de pessoas e ao envolvimento de empresas em sua perpetuação” e colocou que o tema empresas e direitos humanos “tem-se tornado central diante da atuação transnacional das corporações e as assimetrias regulatórias entre países”.
Almeida propôs também quatro alianças que o governo brasileiro quer construir com a comunidade internacional no Conselho de Direitos Humanos. A primeira delas, é a aliança da sobrevivência – envolvendo a questão climática e direitos socioambientais — , a segunda é a aliança pela vida decente – com o propósito de erradicar a pobreza e oferecer trabalho e lazer para todas as pessoas –, a terceira é a aliança pelo direito ao desenvolvimento – sobre as possibilidades de reinventar o desenvolvimento especialmente no Sul Global — e, por último, a aliança contra o ódio – contra o discursos de ódio baseados no racismo, na xenofobia, no sexismo e na LGBTfobia.