Um grupo de 9 importantes organizações egípcias publicou hoje uma longa carta na qual contextualiza e condena em duros termos a violência que já deixou mais de 600 mortos nos últimos dias, lançando novamente o país num cenário de retrocesso e incerteza. Conectas trabalha em estrita colaboração com vários membros do grupo e apoia integralmente o conteúdo da manifestação de repúdio.
No ano passado, a organização recebeu, em São Paulo, o diretor da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, Hossam Bahgat, quando o Egito recém havia saído de décadas de ditadura de Hosni Mubarak. Na ocasião, Bahgat já transmitia um misto de esperança e preocupação com o futuro das profundas mudanças políticas em andamento. Meses depois, já em julho deste ano, com a queda do sucessor de Mubarak, o presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, Bahgat lamentou “que as coisas tenham sido desse modo” e se disse “preocupado com o futuro”.
Hoje, após a violenta ação do Exército e da polícia egípcia contra a população e o saldo de mais de 600 mortos, fica claro o fundamento do receio de Bahgat e de representantes de outras organizações parceiras.
Na carta publicada hoje (link) pelas 9 organizações – entre as quais a Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais, de Bahgat e o Instituto Cairo de Estudos em Direitos Humanos – fica clara a condenação não apenas ao “uso excessivo força pelas autoridades de segurança na operação de dispersão das instalações da Irmandade Muçulmana na Praça Rabia al-Adawiya, no Cairo, e na Praça Nahda, em Giza”, mas o absoluto repúdio à “decisão da Irmandade Muçulmana de cometer atos de violência política e terrorismo” contra os cristãos e contra instalações do governo.
As organizações pedem o fim imediato destas ações e a apuração de todos os responsáveis pelos excessos. A carta também lembra que este cenário foi favorecido pela total negligência com a necessária reforma das instituições de segurança do país, que seguem atuando, em grande medida, como sempre fizeram desde a ditadura Mubarak.