Por meio do decreto 9.960/19, publicado nesta quinta, 24, no Diário Oficial da União, o governo federal alterou regras da Lei de Acesso à Informação ampliando o número de servidores que têm permissão para atribuir sigilo “ultrassecreto” a dados públicos.
Assinada pelo presidente em exercício general Hamilton Mourão sob a alegação de reduzir a burocracia na análise de pedidos, a medida compartilha o poder deste tipo de classificação de sigilo antes exclusiva à chamada “Alta administração” – presidente da República e vice, ministros e comandantes das Forças Armadas – para comissionados de menor escalão, como chefes de autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.
As autorizações, portanto, se aplicam tanto a diretores de instituições, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Petrobrás, quanto a seus subordinados diretos.
De acordo com o Painel Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, comissionados do Grupo DAS de nível 101.6 ou superior e do Grupo DAS de nível 101.5 ou superior, cargos autorizados a partir de agora a classificar um dado com o ranking máximo de sigilo, somam mais de 1.200 funcionários.
Mais de 20 organizações da sociedade civil e diversos especialistas que atuam no campo da transparência assinaram carta conjunta criticando a decisão do governo.
“As mudanças colocam em grave risco o espírito da LAI de atribuir ao sigilo um caráter excepcional e de aumentar o controle e o custo político da classificação sigilosa”, cita trecho do documento. “Não há hoje regulamentação clara sobre o que constitui risco à sociedade ou ao Estado que justifique adoção de sigilo, por exemplo, ou regras para determinar quando de fato é necessária a utilização dos graus máximos de sigilo. Ampliar essa decisão para os escalões mais baixos tende a gerar um comportamento conservador do agente público, reduzindo a transparência, e variação nos critérios utilizados na administração pública”, continua.
Entre as entidades que rubricam o documento estão Transparência Brasil, Artigo 19, Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e Conectas Direitos Humanos. Na carta, elas também criticam a falta de debate público para se chegar a esta decisão e apontam um afastamento do governo das políticas de promoção de transparência e combate à corrupção.