Os resultados das eleições no Zimbábue só serão divulgados no dia 5, mas já são amplamente contestados por organizações de direitos humanos que atuam no país. Segundo a Zimbabwe Election Support Network (ZESN), que mobilizou mais de 7 mil observadores, o processo eleitoral “está seriamente comprometido por um esforço sistemático de excluir cerca de um milhão de pessoas” do pleito. Os números divulgados pela ZESN são ilustrativos: enquanto 99,9% dos eleitores das zonas rurais, tradicionalmente alinhadas com o partido Zimbabwe African National Union – Patriotic Front (ZANU PF) do presidente Robert Mugabe, foram devidamente registrados para votar, nas cidades o índice foi de apenas 67,9%. Além disso, afirma a ZESN, os dias anteriores à votação foram marcados pela intimidação dos eleitores através da mídia governista e pela falta de instruções aos eleitores. Conectas vê a denúncia com preocupação e reforça o pedido para que o diplomata brasileiro Antonio Carlos, que trabalha na missão diplomática de Pretória, na África do Sul, e foi designado como único observador pelo Itamaraty, pronuncie-se oficialmente sobre a transparência e lisura do processo eleitoral no Zimbábue. O Brasil é o único país latino-americano além de Cuba a manter uma missão diplomática no país – o que aumenta sensivelmente sua responsabilidade diante das violações cometidas contra a população.
Segundo o Centro Robert Kennedy Para a Justiça e os Direitos Humanos, apenas em fevereiro de 2013 foram registrados mais de 400 casos de violência política no país. “As últimas eleições foram marcadas pela controvérsia e pela violência. As persistentes violações e os ataques contra defensores dos direitos humanos, lideranças da sociedade civil e ativistas pró-democracia continuam obstruindo o processo de democratização de acordo com nossas organizações parceiras” afirma Arlette Afagbegee, pesquisadora da Conectas para a África. “Esperamos essas eleições marquem um ponto de inflexão na história do país.”
Essas são as primeiras votações desde 2008, quando o ZANU PF, que detém o poder há mais de 30 anos, foi declarado vitorioso apesar da evidente manipulação do processo eleitoral. Naquela ocasião, mais de 200 pessoas foram mortas e pelo menos 12 mil foram vítimas de tortura por conta da disputa política – o que impeliu as duas principais forças políticas do país, o ZANU PF e o Movement for Democratic Change do primeiro ministro Morgan Tsvangirai, a formarem um governo de unidade nacional. Alguns passos foram dados desde então, como a aprovação por referendo em maio de 2013 de uma nova constituição, mas é preciso garantir que as eleições do dia 31 não subvertam as expectativas da população.
“Esperamos que as eleições culminem com a formação de uma liderança que curará nosso povo dos anos de sofrimento e violações, além de aliviar a pobreza endêmica que acomete nossas comunidades. Como estudantes, também queremos que nossa educação seja mais acessível e que haja mais oportunidades e trabalho para aqueles que se formam”, diz Pride Mkono, presidente da Zimbabwe National Student Union. “Esperamos, acima de tudo, que nosso país se torne um player global e consiga se livrar das paredes que hoje nos isolam do resto do mundo.”
Trabalho contínuo
O envolvimento da Conectas com a situação no Zimbábue é antigo. Em 2007, a organização promoveu um encontro entre ONGs latino-americanas e ativistas zimbabuanos a fim de elaborar uma estratégia de enfrentamento das violações de direitos humanos no país. A rede de apoio formada durante esse encontro organizou também uma grande campanha regional para encorajar os governos latino-americanos a adotarem uma posição mais firme diante dos abusos cometidos pelo governo de Robert Mugabe. Um ano depois, pouco antes das eleições, a Conectas pressionou, com sucesso, o Planalto a mandar dois observadores para o país e apoiou a ida de dois jornalistas brasileiros para cobrir o pleito.
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