Nesta quarta-feira (2), a Corte IDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos), ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos), realiza uma audiência pública do “supercaso” que trata das violações de direitos humanos ocorridas em presídios brasileiros.
Com transmissão ao vivo a partir das 11h (Horário de Brasília), a audiência é mais um capítulo de uma resolução inédita da Corte que, em 2017, reuniu quatro casos que chegaram ao tribunal através de medidas provisórias: complexo do Curado, em Pernambuco; complexo de Pedrinhas, no Maranhão; Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Rio de Janeiro; e Unidade de Internação Socioeducativa no Espírito Santo –este último dedicado a menores infratores.
Em fevereiro de 2017, os juízes apontaram indícios de que as circunstâncias nesses locais “não apenas tornariam impraticáveis os padrões mínimos” internacionais para o tratamento de presos, “mas configurariam possíveis penas cruéis, desumanas e degradantes, violadoras da Convenção Americana de Direitos Humanos”. O documento intimou o Brasil a responder 52 perguntas sobre o sistema prisional, focadas nos episódios agregados no “supercaso”, e solicitou ao país medidas concretas em 11 áreas para evitar violações de direitos humanos nos presídios.
Na sabatina, o Brasil apresentou informações genéricas e insuficientes para rebater as suspeitas da Corte de que há “indício de eventual generalização de um problema estrutural de âmbito nacional do sistema penitenciário”. Após a exposição brasileira, o juiz da Corte IDH Eugenio Raúl Zaffaroni classificou a política de superencarceramento brasileira de “máquina de mandados de prisão”.
Complexo de Pedrinhas
Um dos casos mais emblemáticos é do complexo de Pedrinhas, no Maranhão. O relatório Violação Continuada: dois anos da crise em Pedrinhas, elaborado em 2016 por Conectas, Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, OAB-MA e Justiça Global, apontou que as unidades prisionais de Pedrinhas passavam por um processo de precarização e superlotação.
Entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014, foram contabilizadas 62 pessoas mortas em Pedrinhas, sendo 22 delas – algumas decapitadas – registradas em uma série de rebeliões ocorridas a partir de outubro de 2013. No mesmo ano, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e a OAB-MA levaram o caso à CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos). Em novembro de 2014, após mais cinco mortes nas unidades prisionais e a prisão de um dos diretores por envolvimento em caso de corrupção, o caso foi transferido à Corte IDH que publicou medidas para que o Brasil garanta a vida e a proteção física e mental de detentos e agentes penitenciários.