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20/03/2015

Comissão Nacional da Verdade na OEA

Entidades cobram a implementação das recomendações e pedem acompanhamento da CIDH

The hearing was requested by Conectas, the Justice and Peace Commission, CELS (Argentina) and WOLA (United States) The hearing was requested by Conectas, the Justice and Peace Commission, CELS (Argentina) and WOLA (United States)

As recomendações contidas no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) devem ser implementadas de forma consistente pelo Estado brasileiro, cobraram nesta sexta-feira (20/3) entidades de três países perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA).
A audiência em Washington foi solicitada por Conectas Direitos Humanos, Comissão Justiça e Paz de São Paulo, o Centro de Estudios Legales y Sociales (Cels, Argentina) e Wola (Washington Office for Latin America, EUA) e contou com a presença de representantes do governo brasileiro.
A CNV investigou entre 2012 e 2014 as violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado no período 1946-88, que inclui a ditadura militar 1964-85.
Ao abrir a audiência, Rafael Custódio da Conectas afirmou que “as organizações peticionárias acreditam que a concessão deste espaço pode propiciar o início de um processo em que o Estado e a sociedade civil discutam, com base nos padrões do Sistema Interamericano, os desafios para a plena garantia do direito à memória, verdade e justiça no Brasil, à luz do relatório final da Comissão da Verdade”.
Uma das principais recomendações da CNV, entre as 29 feitas, é a de que agentes públicos sejam responsabilizados juridicamente pelas violações ocorridas no período investigado, afastando a aplicação da Lei de Anistia. Durante a audiência os comissionados Felipe Gonzalez e José Orozco destacaram que as comissões da verdade não substituem outro tipo de verdade: a que oferece a investigação e a sanção penal dos responsáveis.
As demais recomendações feitas pela CNV para os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário visam reformas institucionais, constitucionais e de monitoramento. Entre elas estão a criação de mecanismos para prevenir e combater a tortura, a criação da audiência de custódia, o fortalecimento dos Conselhos da Comunidade, a criação de órgãos de perícia independentes, a instituição de ouvidorias e corregedorias externas no sistema prisional e a reforma das polícias.
As entidades pediram que a CIDH monitore a implementação das recomendações, incluindo a criação de um órgão permanente pelo governo que seja responsável por supervisionar os avanços. Durante a audiência, a comissionada Rosa Maria Ortiz questionou o Governo Brasileiro sobre a falta de avanços nesse sentido. O governo só respondeu que “está ainda estudando alternativas”.
“Sem a criação de um órgão responsável do monitoramento das recomendações continuaremos tendo ações isoladas mas não uma política de Estado para lidar com o passado autoritário recente” afirmou Juana Kweitel, Diretora de Programas da Conectas.
Durante a audiência foi apresentado um depoimento Sr. José Carlos Dias, ex-Ministro da Justiça e Conselheiro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo e do Sr. Marlon Weichert, procurador da República.
Os peticionários entregaram à CIDH e ao Estado um informe no qual constavam os seguintes requerimentos:
À Comissão Interamericana de Direitos Humanos:
1)     Realize visita in loco para averiguar os procedimentos que estão sendo realizados pelo Estado Brasileiro no sentido de criar um órgão permanente, com representação da sociedade civil e suficiente poder institucional, para o monitoramento do cumprimento das recomendações elaboradas pela Comissão Nacional da Verdade em seu relatório final.

2)  Estabeleça uma instância de diálogo permanente com o Estado brasileiro, em todas as suas instâncias, especialmente o Poder Judiciário, para discutir os encaminhamentos realizados para o cumprimento das recomendações contidas no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, através de reuniões anuais de monitoramento na presença do Estado brasileiro.Ao Estado brasileiro:

1)   A efetivação da Recomendação n. 26 do Relatório Final, que obriga a criação, com urgência, de órgão permanente – garantida a representação da sociedade civil – de monitoramento das Recomendações elaboradas pela Comissão Nacional da Verdade em seu relatório final;

2)   A determinação, aos órgãos competentes, da responsabilidade jurídica – criminal, civil e administrativa – dos agentes públicos que deram causa às graves violações de direitos humanos ocorridas no período investigado pela CNV;

3) A efetivação de todas as Recomendações elaboradas pela Comissão Nacional da Verdade em seu relatório final.

Assista a íntegra da audiência:

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