Com 4 homicídios por dia, SP sofre com banalização da ‘cultura do confronto’
Para Conectas, o aumento de 96% nas mortes em setembro mostra que a violência e o uso da força letal são o primeiro recurso na solução de impasses em São Paulo
Para Conectas, o aumento de 96% nas mortes em setembro mostra que a violência e o uso da força letal são o primeiro recurso na solução de impasses em São Paulo
Dados publicados ontem pela Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado mostram que todos os dias 4 pessoas são mortas na cidade de São Paulo. Só em setembro o número de homicídios cresceu 96% em comparação com o mesmo período do ano passado – sem contar as mortes provocadas pelo que a polícia chama de “resistência seguida de morte”, nem “latrocínio”, que são assaltos seguidos de morte.
Os números do mês de setembro batem o recorde histórico na cidade, desde que a série começou a ser publicada, em janeiro de 2011, e “revelam um quadro preocupante, onde a violência e o uso da força aparecem como recurso preferencial para a resolução dos impasses na maior cidade do País”, disse Lucia Nader, diretora executiva da Conectas.
Postos sobre o mapa, os dados confirmam que as maiores vítimas da violência são os moradores da periferia. As regiões que correspondem aos distritos policiais de Capão Redondo e Parque Santo Antônio, por exemplo, respondem, juntas, por 18 homicídios em um mês. Além da incidência desigual das mortes sobre as comunidades mais afastadas do centro e desassistidas pelo Poder Público, outra particularidade que se desprende dos dados é a da incidência das mortes sobre policiais – em setembro, 5 deles foram mortos.
“Os dados em si já são preocupantes. Mas estamos especialmente alarmados com a forma como o governo interpreta esses números e reage a essa realidade. As autoridades da área de Segurança Pública de São Paulo fazem uso recorrente de um vocabulário de guerra para justificar o uso da força letal, como se o gatilho fosse, em última instância, o juiz, o tribunal e a pena que recai na maioria das vezes sobre pessoas pobres, negras e de periferia”, disse Lucia, reforçando que “tanto as chacinas, justiciamentos e execuções por parte de membros do crime organizando, quanto os assassinatos cometidos pelos chamados ‘motivos fúteis’ como brigas de bar, traição, brigas de trânsito e acertos de contas, mostram o quanto a morte está banalizada e a vida – que é o maior dos direitos humanos – está em risco na cidade.”
De acordo com o jornal
O Estado de S. Paulo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que “a ordem é ir para cima de criminoso”, o que “só reforça ainda mais a espiral de violência”, de acordo com
Juana Kweitel, diretora de Programas da Conectas.
Conectas acredita que modelos mais exitosos de Segurança Pública têm mostrado que o uso de ações de prevenção, inteligência, ênfase no aspecto de ‘serviço’ por parte da polícia, fortalecimento da ouvidoria, proximidade e identificação com os moradores da cidade, respeito aos limites no uso da força e maior permeabilidade às críticas num espaço de diálogo construtivo com acadêmicos, ONGs e movimentos sociais não são um aspecto menor entre os vetores que incidem na redução do número de mortes.