Em carta aberta ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema, organizações da sociedade civil repudiaram ação policial de reintegração de posse do Quilombo Campo Grande, localizado na cidade de Campo do Meio, no sul do estado, ocorrida na última sexta-feira (14).
De acordo com Adere/MG (Articulação dos Empregados Rurais de Minas Gerais), Business and Human Rights Resource Center, Conectas Direitos Humanos, Contar (Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais) e Instituto Ethos o território foi palco de uma violenta operação policial em plena pandemia de Covid-19.
A operação envolveu 150 militares munidos de forte aparato policial e um helicóptero. A escola e mais seis casas foram destruídas, duas pessoas ficaram feridas e outras quatro foram levadas presas, sob a alegação de cometerem “crime de resistência”. Havia entre os acampados grávidas, idosos e outras pessoas do grupo de risco.
Há mais de 22 anos, 450 famílias ocupam a terra onde estava a falida Usina Ariadnópolis, da Capia (Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo). Ao encerrar suas atividades, em 1996, a empresa deixou dívidas trabalhistas e o local abandonado.
“A ocupação das terras ressignificou a propriedade e a transformou em uma terra produtiva, com cerca de 600 hectares plantados atualmente. No último ano, por exemplo, as famílias que vivem no local produziram o surpreendente número de 8,5 mil sacas de café e 1.100 hectares de lavoura com 150 variedades cultivadas, sem o uso de agrotóxicos. Um dos principais produtos cultivados é o café Guaií, produzido em larga escala de modo sustentável e agroecológico”, destacaram as entidades na carta.
As entidades cobram apuração do uso desmedido do aparato policial, inclusive com uso de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra as famílias e suas crianças, a não criminalização das lideranças e a desapropriação das terras da Usina Ariadnópolis em benefício das famílias que ocupam as terras há mais de duas décadas.