No dia 26/9 aconteceu, na Cidade do México, a chamada “marcha da indignação”. O protesto reuniu mais de 15 mil pessoas e tinha por objetivo lembrar aos mexicanos e ao mundo inteiro o aniversário de um ano do desaparecimento forçado de 43 estudantes da escola normal rural José Burgos de Ayotzinapa. Os jovens estavam a caminho de um protesto, em dois ônibus, quando foram interceptados e atacados pela polícia.
Clique aqui para saber mais sobre o caso.
A escola de Ayotzinapa foi fundada em 1926 na cidade de Tixtla, estado de Guerrero, como parte de um projeto de educação para comunidades campesinas. A iniciativa recebeu muito impulso do governo no início do século XX, mas perdeu apoio nos últimos anos. De 36 escolas normais rurais que existiam em todo o país, restam apenas 17. A unidade de Ayotzinapa é uma das mais importantes e atende 140 novos alunos todos os anos. No total, mais de 500 vivem e estudam ali.
Para além da efemeridade da data, a massiva mobilização nacional e internacional provou que, não importa o lugar, o idioma, a religião ou posicionamento político, o caso ainda é símbolo inequívoco do descontentamento popular em relação às persistentes violações de direitos humanos no país. A consigna #AyotzinapaSomosTodos ainda representa grande parte da população mexicana.
A marcha teve início das escadarias do Auditório Nacional e seguiu por oito quilômetros, sob chuva, até a Praça da Constituição, conhecida como Zócalo. Foram mais de sete horas de caminhada a passos lentos, acompanhada por cânticos de indignação pela omissão do Estado na busca por respostas. As bandeiras que se viam eram as mais diversas, de estudantes, professores e campesinos até organizações de direitos humanos. Todos levantavam a mesma dúvida: onde estão os 43 estudantes de “Ayotzi”?
A pergunta leva em si muitas outras. Por que os estudantes foram atacados? Quem são as autoridades diretamente envolvidas? Qual a relação entre a administração pública e o narcotráfico?
Até hoje, a única versão sobre o que aconteceu – a oficial – é contestada pelos familiares dos estudantes e pela comissão independente de investigação criada pela CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA) para acompanhar o caso. A apuração acabou revelando, por outro lado, milhares de outros desaparecimentos. Segundo dados do governo federal, foram 22 mil apenas nos últimos nove anos.
Não por acaso, Ayotzinapa representa também esperança de chamar atenção para um problema endêmico e estrutural que não vem recebendo atenção do Estado. A marcha do dia 26/9 provou que a sociedade civil mexicana está sendo bem sucedida na luta por não deixar essa esperança morrer.
*Josefina Cicconetti é conectora para América Latina do programa Sul-Sul da Conectas e viajou ao México em setembro para acompanhar os protestos que marcaram um ano desde o desaparecimento dos estudantes de Ayotzinapa e se solidarizar com os familiares das vítimas.