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02/10/2015

Ataque ao Marco Civil

Organizações repudiam projeto que impõe vigilância em massa na internet

Organizações repudiam projeto que impõe vigilância em massa na internet Organizações repudiam projeto que impõe vigilância em massa na internet

A sociedade civil reagiu à tentativa da Câmara dos Deputados de aprovar um projeto de lei que contraria o Marco Civil da Internet, sancionado depois de amplo debate público em junho de 2014. O PL 215/2015, de autoria de Hildo Rocha (PMDB-MA), e os textos a ele apensados permitem que autoridades policiais possam censurar conteúdos na internet e recolher informações de usuários sem ordem judicial em casos de “crimes contra a honra” – calúnia, injúria ou difamação.

Na prática, o projeto impede que políticos que ainda não foram condenados pela justiça sejam alvo de críticas na rede. A proposta também endurece penas para crimes praticados nas redes sociais e impõe uma vigilância massiva contra os usuários.

Dezenas de organizações se manifestaram contra o PL 215, que pode ser votado a qualquer momento pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Em nota pública, as entidades afirmaram que a iniciativa “atenta contra princípios do Estado de Direito, na medida em que se revela como retaliação a direitos estabelecidos, antes mesmo de o Marco Civil estar regulamentado, com o claro objetivo de reverter a vitória que a sociedade brasileira conseguiu no Congresso Nacional”. Elas também criticaram o processo de votação da proposta, sem o devido debate público.

Leia a íntegra do documento:

Atenção, querem mutilar o Marco Civil da Internet!

Entidades da sociedade civil reunidas na Articulação Marco Civil Já repudiam as iniciativas parlamentares que atentam contra a privacidade e a liberdade de expressão.

Estão em tramitação na Câmara dos Deputados diferentes projetos que ameaçam uma das mais importantes conquistas democráticas do último período – a edição do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014). O MCI trouxe garantias a direitos fundamentais para os usuários da rede, como a privacidade e a liberdade de expressão, em consonância com orientações internacionalmente aceitas de governança da Internet.

Estimulados por setores privados detentores de grande poder econômico e pelo próprio interesse de coibir manifestações de críticas respaldadas pelo direito de liberdade de expressão, deputados apresentaram na Câmara projetos de lei que alteram o MCI.

O Projeto de Lei 215/2015, apresentado pelo Deputado Hildo Rocha (PMDB/MA), e seus apensos – PL 1547/2015, de autoria do Deputado Expedito Netto (SD/RO), e PL 1589/2015, da Deputada Soraya Santos (PMDB/RJ) – propõem que se inclua no art. 48 e no art.141 do Código Penal uma punição mais dura para os crimes praticados nas redes sociais. Além disso, alteram dispositivos da Lei 12.965/2014, apresentando nova redação aos arts. 10, 13, 15, 19 e acrescentando o art. 21-A, para permitir que dados dos usuários sejam fornecidos a autoridades públicas independentemente de ordem judicial, assim como a obrigatoriedade de retirada de conteúdos postados na internet, nos casos de mera alegação de crimes contra a honra – calúnia, injúria e difamação –, impondo penalidades de restrição física e econômicas ao provedor de internet, comprometendo o princípio da inimputabilidade da rede. Entre os dados dos usuários que podem ser obtidos sem ordem judicial estão os conteúdos das suas comunicações na Internet – teor de e-mails, mensagens e conversas em aplicações como Skype e Whatsapp, por exemplo.

Na sétima e última versão do substitutivo, a proposta ainda prevê a ampliação dos dados cadastrais a serem coletados pelos provedores de internet, impondo a obrigação de reterem dados como endereço completo, telefone e CPF, que poderão ser repassados, sem ordem judicial, para autoridades que tenham atribuição legal para fazer esse pedido.

O PL 215/2015 coloca em risco o necessário equilíbrio entre a proteção do direito à privacidade e a persecução criminal, bem como a própria democracia ao permitir tais abusos.

Tais proposições já foram rejeitadas durante a tramitação do MCI. Aliás, vale destacar que os dispositivos hoje presentes no Marco Civil foram resultado de um amplo debate social e de uma intensa negociação política, o que torna esta uma das leis mais democráticas já votadas na recente história do Congresso Nacional.

Acreditamos que qualquer alteração na Lei nº 12.965/2014 deva ser precedida de uma discussão qualificada, amparada por reflexões técnicas, políticas e sociais. É necessário haver, principalmente, intensidade de participação democrática equivalente ao processo do qual se originou, com um processo de consulta pública, para que a sociedade possa fazer representar seus interesses relativos à proteção de dados pessoais e liberdade de expressão na internet.

Sabemos que uma ala bastante significativa do PMDB se opôs frontalmente à aprovação do Marco Civil da Internet, representando interesses retrógrados e de agentes econômicos poderosos. Entretanto, tais interesses não podem prevalecer sobre as garantias instituídas pelo processo legislativo democrático e sobre o interesse público tão defendido no debate do MCI.

A iniciativa dos mencionados deputados atenta contra princípios do Estado de Direito, na medida em que se revela como retaliação a direitos estabelecidos, antes mesmo de o Marco Civil estar regulamentado, com o claro objetivo de reverter a vitória que a sociedade brasileira conseguiu no Congresso Nacional.

Portanto, as entidades reunidas na Articulação Marco Civil Já repudiam a manobra artificiosa e anti-democrática levada adiante pelo PMDB, que estimula o vigilantismo arbitrário e a censura desarrazoada, atentando contra o Estado de Direito e exige que os deputados aguardem o processo democrático já estabelecido pelo Executivo quanto ao PL de Proteção de Dados Pessoais que tratará do mesmo tema, porém, com a ampla participação.

Articulação Marco Civil Já

ABONG – Associação Brasileira de ONGs

Actantes

ACT+ – Aliança de Controle do Tabagismo e Saúde

Advogados Ativistas

AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras

ANDI – Comunicação e Direitos

Artigo 19

ASL – Associação Softwarelivre.org

Associação das Rádios Públicas do Brasil (ARPUB)

Associação dos Blogueiros e Ativistas do Paraná – ParanáBlogs

Autres Brésils (associação francesa de intercâmbio cultural Brasil-França)

Baixa Cultura (baixacultura.org)

Casa da Cultura Digital Porto Alegre

Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé

Centro de Estudos de Mídia Alternativa Baronesa de Itararé (Núcleo do Barão de Itararé no Paraná)

Cibercult UFRJ

Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada

CLADEM – Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher

Clube de Engenharia

Coding Rights

Coletivo Digital

Coletivo de Juventude Kizomba

Coletivo Locomotiva Cultural

Coletivo Pedra no Sapato

Coletivo Soylocoporti

Comunidade Curitiba Livre

Conectas Direitos Humanos

Federação dos Radialistas (Fitert)

Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (FITTEL)

Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores em Serviços de Telecomunicações (Fitratelp)

Flacso Brasil

FLISOL Brasil – Festival Latino-americano de Instalação de Software Livre

Fora do Eixo

Fórum de Mulheres de Pernambuco

Fórum de Transparência, Participação e Controle Social

Fórum Mundial de Mídia Livre

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

FotoLivre.org

Fundação Blogoosfero

Fundación Ciudadano Inteligente – Chile

Grupo de Estudos de Direito da Internet (GEDI/UFRN)

INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos

Instituto Bem Estar Brasil

Instituto Beta Para Internet e Democracia (IBIDEM)

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC)

Instituto Brasileiro de Políticas Digitais – Mutirão

Internet Sans Frontieres (Internacional)

Internet Sem Fronteiras Brasil

Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social

Justiça Global

Labhacker

Laboratório de estudos sobre Internet e Cultura (LABIC/UFES)

Laboratório experimental de tecnologias livres (LABLIVRE)

Levante Popular da Juventude

Marcha Mundial das Mulheres – Pará

Mídia Ninja

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Movimento Mega

Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (NEPEM) da UFMG

Observatório da Mulher

Open Knowledge Brasil

Pimentalab – Unifesp

PROTESTE – Associação de Consumidores

?#?Redelivre?

Renajoc – Rede Nacional de Jovens e Adolescentes Comunicadores e Comunicadoras

SindijorPR – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná

Sindicato dos Radialistas no Estado de São Paulo

SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia

Tie-Brasil

Transparência Hacker

União de Mulheres de São Paulo

União Norte Rio Grandense de Estudantes de Direito Internacional (UNEDI)

Viração Educomunicação

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