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28/02/2014

A periferia da periferia

Como é defender os direitos humanos no interior do Maranhão



Só usar carro com vidros escuros, não andar sozinho, evitar conversas pelo telefone, não circular de noite e viajar atento ao perigo de uma emboscada. As preocupações cotidianas do jovem advogado Igor Almeida são contadas como quem fala de uma ida à praia no Rio de Janeiro ou a uma sessão de cinema no Centro de São Paulo. Para o ativista de 29 anos, membro da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, o risco faz parte de um trabalho que existe para que pessoas mais vulneráveis tenham direito à vida e a seus direitos fundamentais.

O Maranhão ganhou as primeiras páginas dos jornais do Brasil no início deste ano, depois de mais de 60 mortes de presos ocorridas na Penitenciária de Pedrinhas, na capital, São Luiz. Igor entrou duas vezes no local para conversar com os presos. Um vídeo com decapitações ocorridas em Pedrinhas ganhou os jornais, senadores visitaram o Estado, denúncias internacionais foram feitas, mas, aos poucos, a atenção foi sumindo e o caso deixou as páginas do noticiário. Mas, para ativistas locais, como ele, a denúncia pública é apenas uma parte do trabalho.

“Em 2010 tivemos 18 mortes semelhantes numa rebelião. O fato ganha exposição, mas não se discutem as causas. Por isso, novas tragédias como essa, de 2013, continuam acontecendo”, diz Igor.

O advogado diz que é mais difícil defender os direitos humanos fora dos grandes centros. “O Maranhão é um Estado periférico. Questões políticas tornam tudo ainda mais difícil aqui. Quando jornais do Sudeste dão visibilidade às violações ocorridas no Estado, ajudam a mostrar que a questão está mesmo no olho do furacão, mas o trabalho continua aqui”, explica.

Interior

Apesar da grande atenção dada ao problema carcerário do Maranhão, o ativista diz que os desafios mais frequentes para a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos ainda estão na área rural. “O Maranhão lidera o ranking de conflitos agrários da CPT (Comissão Pastoral da Terra). Trabalhamos com inúmeros casos de disputa por terra e questões quilombolas”, conta Igor.

Apesar dos riscos e da dificuldade, ele diz que o trabalho em defesa dos direitos humanos vale a pena. “Aprendi isso desde cedo. Meus familiares eram trabalhadores rurais e eu cresci vendo como era a realidade deles. Eu não poderia trabalhar com outra coisa. Quem atua nessa área sabe o valor que tem essa dedicação. A chance de olhar nos olhos de uma pessoa e perceber a gratidão faz tudo valer a pena.”

Conectas vem trabalhando em estreita cooperação com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos para cobrar do governo as melhorias necessárias no sistema prisional. Juntas, as organizações fizeram denúncias internacionais sobre as mortes ocorridas em Pedrinhas e foram a Brasília pedir a federalização dos crimes e da investigação em curso.

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