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24/03/2021

A “gripezinha”, 300 mil mortes depois

O caos sanitário, econômico e social em que o Brasil ora mergulha é responsabilidade direta do presidente Jair Bolsonaro, que sabotou todas as recomendações da ciência, interviu no Ministério da Saúde e provocou uma cisão política sem precedentes



No dia em que o Brasil atinge a marca de 300 mil vidas perdidas para a Covid-19, Conectas se solidariza com as vítimas. São pais, mães, filhos e filhas, amigos e amores de tantas pessoas. Não podemos perder a dimensão humana por trás das estatísticas de uma tragédia evitável.

O iminente colapso do sistema público e privado de saúde, a falta de insumos básicos para o atendimento dos doentes e o aumento exponencial de mortes nas últimas semanas é resultado direto da negligência com que a doença vem sendo tratada pelas autoridades desde antes de o primeiro diagnóstico ser confirmado no Brasil.

Em especial, o caos sanitário, econômico e social em que o Brasil ora mergulha é responsabilidade direta do presidente Jair Bolsonaro, que sabotou todas as recomendações da ciência, interviu no Ministério da Saúde e provocou uma cisão política sem precedentes com prefeitos, governadores, legislativo e judiciário justo no momento em que o país demandava união e liderança.

A inédita inflexão no discurso do governo, com o pronunciamento do presidente defendendo a vacinação em massa, realizado ontem (23), é insuficiente para reparar o estrago já realizado por uma postura negacionista, autoritária e belicosa. Ainda que a mudança de atitude se concretize para além de um mero jogo de cena, Bolsonaro e seu ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, devem ser responsabilizados por seus atos que tantas vidas custaram.

Daqui em diante, é fundamental que o novo ministro da Saúde tenha autonomia para realizar um trabalho seguindo recomendações técnicas e em coordenação com estados e municípios, que o país adote medidas mais duras de isolamento social e que os programas de vacinação sejam acelerados. Não cabe mais perder tempo discutindo tratamentos precoces “milagrosos” e sem comprovação científica.

É imprescindível pôr fim, de uma vez por todas, em qualquer narrativa que oponha saúde e economia. Os prejuízos à economia serão maiores e mais duradouros com a pandemia em descontrole, impactando de modo mais severo as populações negras e pobres que habitam as periferias do país. Para estas pessoas, em especial, são necessárias políticas públicas de segurança alimentar e social para além do que um auxílio emergencial de R$ 250 pode oferecer – valor muito aquém do necessário para alimentar uma família.

Foi a partir desta sensibilidade social e do vácuo de uma liderança política que surgiram iniciativas solidárias da sociedade civil. Por exemplo, a campanha “Tem Gente Com Fome”, liderada pela Coalizão Negra por Direitos, pretende distribuir cestas básicas a 223 mil famílias mais afetadas pela crise econômica – um alívio temporário, mas urgente, a quem não tem outros recursos. As doações podem ser feitas pelo site: www.temgentecomfome.com.br.

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