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A dinâmica do ultraconservadorismo no Congresso Nacional e seus vínculos religiosos

União entre católicos e evangélicos ultraconservadores no Congresso fortalece uma agenda comum que impacta políticas públicas em áreas como gênero, educação e segurança

Vista do prédio do Congresso Nacional. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil/Arquivo Vista do prédio do Congresso Nacional. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil/Arquivo

Há uma aliança estratégica entre católicos e evangélicos ultraconservadores no Congresso Nacional, consolidando uma frente poderosa que une os dois maiores segmentos religiosos do país em torno de pautas comuns. Essas agendas incluem políticas antigênero, educação e segurança pública. A convergência não se restringe apenas aos parlamentares diretamente ligados a essas religiões, mas se expande com a adesão de outros atores políticos que, embora sem vínculo religioso formal ou autodeclarado, demonstram lealdade à agenda ultraconservadora.

Essa dinâmica é destacada no relatório “Religião e a Contínua Mobilização da Extrema-Direita”, publicado pela Otros Cruces com o apoio da Conectas, no âmbito do Observatório de Religião e Direitos Humanos (ORDH). O estudo revela como atores atrelados às igrejas Católica e Evangélica têm utilizado narrativas religiosas para impulsionar forças ultraconservadoras no cenário político nacional. A religião, segundo o relatório, serve como um elo de legitimação e conexão entre diversos grupos conservadores e de extrema-direita.

No Congresso, o ultraconservadorismo religioso tem se mostrado um obstáculo para  o avanço das pautas do governo federal, com uma articulação forte em torno do “populismo penal” e questões morais. 

A pesquisa, que monitorou 11 parlamentares católicos e evangélicos, foi orientada a partir de dois questionamentos: como a religião contribui para a capacidade de mobilização da extrema-direita? Quais desafios essas forças mobilizadas representam para a agenda de direitos humanos? O relatório aponta para um combo mínimo responsável por produzir coesão no âmbito da militância e também atrair a atenção para a sua agenda.

Veja os principais pontos da agenda: 

Políticas Antigênero: A pauta inclui a negação da diversidade sexual, uma ofensiva antitrans e a oposição ao aborto como direito. Essas políticas são sustentadas pela defesa da família tradicional, baseadas em um modelo cristão, burguês e monolítico, que exclui outras configurações familiares e impõe uma compreensão restrita da sexualidade.

Educação: Ligada diretamente à pauta antigênero, a educação é vista como uma extensão dos valores morais e religiosos familiares, com forte oposição à chamada “ideologia de gênero”. Essa visão defende que a família deve ser a única fonte válida para a educação de crianças e adolescentes.

Segurança Pública: A agenda conservadora na segurança pública busca garantir direitos e liberdades individuais de forma contraditória, reivindicando-os para si enquanto tenta restringi-los para outros. No contexto brasileiro, essa pauta abrange a redução da maioridade penal, a liberação do uso de armas pela população, políticas restritivas de drogas e maior liberdade para as forças de segurança do Estado.

As pautas mencionadas têm fornecido à extrema-direita religiosa a capacidade de se manter como protagonista do debate público. Valendo-se da polêmica como tática, não raramente impõe às forças progressistas uma posição reativa no tabuleiro político. Em um cenário em que as contradições da democracia são cada vez mais evidentes, o recrudescimento do conservadorismo e a sua instrumentalização da religião constituem um desafio à manutenção e avanço da agenda dos direitos humanos, e à manutenção e aprofundamento da própria democracia.    


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