No mundo todo, o número de pessoas que saíram de seus países para viver em outros lugares é de 272 milhões, o que representa 3,5% da população global. É o que informa o Relatório Mundial sobre Migrações de 2020, elaborado pela OIM (Organização Internacional para as Migrações), da ONU. Ainda de acordo com o documento, o deslocamento forçado interno registrou recorde de 41 milhões; já o número de refugiados chegou a aproximadamente 26 milhões.
O Brasil é um destino comum para muitos dos que são forçados a abandonar seus lares, ou dos que buscam por novas oportunidades. Segundo o OBMigra (Observatório de Migrações Internacionais), mantido pela UnB (Universidade de Brasília) em parceria com o Ministério da Justiça, o país tem hoje cerca de 774,2 mil imigrantes vivendo regularmente.
Apesar das dificuldades que enfrentam para se estabelecer em um novo território, muitas dessas pessoas veem na música uma forma de ligação. Neste 18 de dezembro, para celebrar o Dia Internacional dos Migrantes — data instituída pela ONU, em 2000, para valorizar as contribuições de pessoas migrantes às sociedades de origem e de destino —, a Conectas selecionou seis artistas e grupos musicais que transformaram suas realidades em arte.
Santa Mala: hip hop feminino da Bolívia
Desde crianças, as irmãs bolivianas Jenny, Pamela e Abigail Llanque se aventuravam nas letras de rap, influenciadas pelas músicas norte-americanos que ouviam nas rádios de La Paz. Esse foi o pontapé para a criação do grupo Hermandad Feminina, que durou até 2008. Já vivendo no Brasil, em 2014, as três, que vieram trabalhar como costureiras em São Paulo, decidiram reviver sua arte e criaram o grupo Santa Mala — ou “Santa Má”, em português, que brinca com a bipolaridade religiosa. As letras exploram suas realidades, raízes andinas e as dificuldades pessoais.
Surprise 69: o rap haitiano como resistência
O rap também é a arma escolhida pelo trio de haitianos Surprise 69 para denunciar preconceitos e a desigualdade social. Mas, em músicas como “Super Star Club”, “Anti-Racismo” e “Eu Amo Você”, os músicos Mario Love, El Negro Flow e Gasper Lesperance também falam de amor e do cotidiano tanto no Haiti quanto no Brasil. Reforçando o caráter multicultural, o grupo criado em 1999, em Porto Príncipe, canta em créole, português, inglês e francês.
Batanga & Cia: mistura de ritmos que vem de Cuba
Foi inspirado pelos batuques da Santeria que o cubano Pedro Bandera decidiu estudar música em seu país. Quando chegou ao Brasil, em 2005, ele tinha apenas um celular e três tambores na mão. Assim, foi abrindo caminho no cenário musical brasileiro. Em 2014, criou o quinteto Batanga & Cia, formado por músicos cubanos que vivem em São Paulo. O grupo, que leva o nome de um ritmo pouco conhecido da ilha de Cuba, mistura ritmos latinos, caribenhos e brasileiros com música clássica cubana, recriando o clima das casas de jazz da Havana do século passado.
Mazeej Band: união através da música
A ideia do produtor Jonathan Berezovsky era aproximar judeus e árabes através da música. Juntando imigrantes e refugiados de países como a Síria e o Líbano, além de brasileiros, ele criou a Mazeej Band (que significa “mistura”, em árabe). Os riffs que resgatam clássicos das culturas dos músicos já puderam ser ouvidos em conferências da ONU e desfiles de moda.
Zola Star: música africana para todos
Nascido no Congo, Zola Star vivia em Angola quando precisou fugir do país por conta de uma guerra civil, em 1993. Hoje, vivendo no Rio de Janeiro, ele é uma referência para os músicos imigrantes que chegam no país. Segundo o artista, sua missão é espalhar a música africana para fora do continente. E ele tem conseguido. Em seus trabalhos, além de homenagear a terra que o acolheu, o músico canta sobre o amor e a paz entre os povos africanos.
Orquestra Mundana Refugi: clássicos multiculturais
Músicos refugiados de diversasvculturas formam a Orquestra Mundana Refugi, que surgiu a partir de oficinas promovidas pelo Sesc, no aniversário de 15 anos da Orquestra Mundana, criada pelo compositor e multi-instrumentista Carlinhos Antunes. Temas tradicionais da Palestina, Irã, Guiné-Conacri, Congo, Haiti e Brasil, além de composições de Antunes, são recorrentes nas apresentações do grupo, que expressa no palco as alegrias e as dificuldades do que é ser refugiado no Brasil.